A cruz escondida

Crianças iraquianas receberam presentes de natal graças à AIS

Fábrica de sonhos

Fugiram de suas casas há três anos, com os pais. Fugiram apavorados. Fugiram para salvar as próprias vidas. Muitas destas crianças ainda hoje têm pesadelos quando recordam esses dias em que os jihadistas invadiram as suas aldeias e lhes roubaram tudo o que tinham. Até os brinquedos foram deixados para trás. Mas este ano, neste Natal, muita coisa começou a mudar…

Os últimos dias antes do Natal foram agitados num grande armazém  em Ankawa, no Curdistão Iraquiano, cidade para onde fugiram muitos dos 120 mil cristãos que foram forçados a abandonar as suas casas na Planície de Nínive, no Verão de 2014, quando a região foi assaltada pelos jihadistas do auto-proclamado “Estado islâmico”. Mal se entrava neste armazém reparava-se logo em dezenas de caixas empilhadas pelo chão. Cada uma destas caixas iria resgatar um sorriso a uma criança no Natal. Dezenas de voluntários da paróquia de Erbil, na sua maioria jovens, como O’Neal, Santa ou Reben e muitos outros, ofereceram o seu tempo auxiliando as irmãs da Congregação das Filhas de Maria para que todas as crianças de todas as famílias cristãs da Planície de Nínive voltassem a experimentar o doce prazer de poderem desembrulhar uma prenda  neste Natal. Ao todo, foram cerca de 15 mil presentes distribuídos em  Qaraqosh, Karamless, Bartella e Bashiqua e também em Ankawa, o bairro cristão de Erbil. Foram 15 mil presentes para 15 mil crianças cristãs. Nesta verdadeira oficina do Pai Natal, ninguém olhava para o relógio, ninguém protestava pelo trabalho. Todos compreendiam que aquele simples trabalho de embrulhar caixas com alguns presentes era fundamental para se devolver o tempo perdido às crianças cristãs do Iraque. Durante os últimos três anos, todas as crianças cristãs refugiadas no Curdistão fazem lembrar o próprio Menino Jesus que nasceu numa simples manjedoura. Também eles, durante este tempo, estes longos meses, tiveram de pernoitar, com as suas famílias, ao relento, em tendas, em contentores, em quartos alugados. Deve ter sido difícil de explicar a estas crianças o que lhes estava a acontecer. Porque tiveram de fugir, porque tiveram de deixar as suas casas para trás, porque não puderam levar, sequer, os brinquedos preferidos.

Descobrir o medo

Todas as crianças cristãs refugiadas no Curdistão Iraquiano passaram dias terríveis. Nestes três anos, estas crianças cristãs descobriram o que é o medo de verdade, o frio e a fome. Descobriram as lágrimas dos seus pais. Nestes três anos, estas crianças cristãs perderam a inocência. A infância foi-lhes roubada. Isso percebe-se cruamente nas cartas que escreveram ao Pai Natal. Não falam em guloseimas nem em brinquedos nem em roupa de marca. Pedem apenas a possibilidade de viverem em paz, de voltarem a casa, de frequentarem a escola e de poderem brincar. Não é possível embrulhar estes pedidos.
A Irmã Ni’am foi a coordenadora deste projecto, desta iniciativa. Ela sabe que estes são dias difíceis. Dias de expectativa, para tantas famílias que começam a regressar a suas casas, e dias de desalento para quem continua sem saber quando esse dia vai chegar. Graças à enorme campanha que a Fundação AIS está a promover a nível internacional, muitas vilas e aldeias cristãs da região da Planície de Nínive já estão a ser recuperadas, assim como Igrejas e outras infraestruturas comunitárias, para que os cristãos possam refazer as suas vidas. O regresso dos Cristãos será sempre marcado por lágrimas. Não sendo possível apagar o tempo, as marcas dolorosas do que aconteceu, pode dar-se início a um tempo novo. A começar com as crianças. A começar neste Natal. As crianças iraquianas receberam presentes de Natal este ano graças à fábrica de sonhos da Fundação AIS. Graças aos benfeitores e amigos da Ajuda à Igreja que Sofre…

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Agência ECCLESIA

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