A crise implica novas regras

Secretário do Conselho Pontifício Justiça e Paz pede respeito pelo princípio da subsidiariedade e denuncia sistema financeiro que funciona ao contrário

A crise económica e financeira oferece a oportunidade de restaurar o crescimento de forma responsável, em vez de nos entregarmos ao «decrescimento». "Este é um desafio para pensar e planear, para estabelecer regras e encontrar novas formas de compromisso", afirmou o Secretário do Conselho Pontifício Justiça e Paz, D. Giampaolo Crepaldi, durante o encontro de bispos da Europa que decorre esta Terça-feira em Zagreb, na Croácia, sobre a «Crise económica e financeira: Experiências, iniciativas, problemas e respostas da Igreja na Europa».

A crise está a gerar questões profundas. "Se por um lado, ficamos mais vulneráveis, por outro, estimula a nossa responsabilidade", observou D. Crepaldi.

A crise mostra que "a economia não se pode sustentar sem um sistema de referência com valores que vão além dos critérios económicos". O secretário do Conselho Pontifício não partilha da opinião de muitos que acreditam que a crise económica está, inevitavelmente, a conduzir a um «decrescimento».

"Acredito que a crise pode ser uma ocasião importante para pensar os nossos comportamentos económicos, mas não aplaudo a crise que está a votar muitos trabalhadores e famílias à pobreza, para além de dificultar a ajuda aos países mais pobres".

O Secretário afirmou que a crise dá uma oportunidade de discernir e traçar novos projectos", em especial, sob o princípio de subsidiariedade "negado pela crise económica".

D. Crepaldi denunciou um sistema que funciona ao contrário. "As finanças deveriam ser subsidiárias da economia, e não ao contrário. Os bancos e os mercados bolsistas deveriam subsidiar o sistema produtivo e não o contrário. Os empréstimos deveriam subsidiar as famílias, não o contrário", enfatizou.

"Mesmo na tentativa de responder à crise o princípio da subsidiariedade não é sempre respeitado".

A alocução do Secretário do Conselho Pontifício criticou ainda a intervenção estatal para ajudar o sistema bancário. "A intervenção deveria ser indirecta e não na ajuda directa". Em qualquer caso, "a ajuda directa deveria ser temporária para que o Estado não seja uma presença permanente na economia".

O bispo Crepaldi enfatizou a crise como uma ocasião para repensar a economia, "tomando em consideração as necessidades dos mais pobres, considerando-os um recurso e não um fardo".

O perigo, advertiu, é que os já precários fundos destinados ao desenvolvimento não estão garantidos e os fundos para o desenvolvimento, "mesmo o que estavam reservados para projectos inovadores, serão reduzidos".

O bispo afirmou que o estímulo ao sistema financeiro de países emergentes ou desenvolvidos não é suficiente para ultrapassar a crise economia. "Precisamos de parar a volatilidade dos capitais e o escândalo dos paraísos fiscais". O Secretário criticou os países que se declaram contra os paraísos fiscais mas que, na realidade, os ajudam a explorar.

"A abolição dos paraísos fiscais deveria ser simultânea, caso contrário alguns poderão beneficiar da supressão dos outros". Não sendo uma questão fácil, "foi-nos dada a oportunidade", referiu. "Se não a aproveitarmos, será uma falha nossa. A necessidade de mudança de regras, para que os pobres tenham acesso ao mercado é um dos interesses do próprio mercado".

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