A casa de todos, todos…

Paulo Rocha, Agência Ecclesia

O verão é, com frequência, uma oportunidade para visitar locais que surpreendem e habitar destinos que encantam pela beleza natural e sobretudo pelo acolhimento das suas gentes. São dias para louvar o Criador pela terra e pela água, pelo sol e pela sombra, a montanha, o mar e tanto mais, que se vê e sente! Tanto, mas não tudo! Nestas ocasiões, é necessário também denunciar a intervenção destruidora das pessoas que passam por tantos lugares, o lixo deixado após horas de folia e a imprudência de querer transformar o criado ao jeito que é mais favorável a cada criatura, a cada momento…

O mar e a costa são locais onde mais culposamente se percebe a presença humana, destruidora, sem escrúpulos, nomeadamente no gozo dos dias de verão: lixo espalhado pelas praias, toda a espécie de garrafas por qualquer baía, pontas de cigarro em todos os recantos e muito, muito mais… Isto para não falar da sobrelotação dos espaços que raramente se rendem à necessidade de taxas de ocupação para permitir, sem esses limites, o crescimento dos negócios da ocasião. E como são diferentes tantos lugares vistos em belas imagens, nas fotografias de programas vendidos por tantas agências, e o encontro real com o criado de forma harmoniosa, mas destruído à medida que cresce a presença do humano. De um ser racional?

Soam todos os alarmes quando chegam os incêndios, quando os sismos são sentidos, quando praias são fechadas ou locais outrora paradisíacos aparentemente deixam de existir. Mas a questão não se resolve com intervenções de ocasião, quando há esses fenómenos de si preocupantes e muito amplificados pelos meios de comunicação social, sobretudo aqueles que comunicam muitas vezes sem regras nem verdade, como são as redes sociais. O tema é de todos os dias, de cada comportamento, de cada decisão, de cada desleixo ou inação.

Confesso que não desejei o melhor a quem lançava uma ponta de cigarro para as rochas de uma baía ou atirava uma garrafa para o lado e virava costas… Porque a consequência para a natureza é semelhante a um corte no pé que possa ter acontecido no encontro de uma uma rocha pontiaguda ou um deslize depois de um apoio mal calculado. As marcas ficam no corpo, nestes casos, como ficam na natureza, quando não a cuidamos.

Um tema que se retoma quando se assinala, entre o dia 1 de setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e o dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, o Tempo da Criação. Uma iniciativa ecuménica, que começou no dia 1 de setembro de 1989 quando o patriarca ecuménico Dimitrios I proclamou esse dia, que assinala o início do Ano Litúrgico na Igreja Ortodoxa, como um dia de oração pela criação para os ortodoxos. Depois, através do Conselho Mundial de Igrejas, os cristãos integraram esta iniciativa no seu calendário anual, entre o dia 1 de setembro e 4 de outubro, e, em 2015, o Papa Francisco acolheu oficialmente esta iniciativa na Igreja Católica Romana.

O Tempo da Criação acontece quando se assinala o recomeço de tantas atividades, profissionais, letivas e pastorais e tem por inspiração o santo de Assis que a todos chamou irmã e irmão, desde a terra ao ar, do mar à serra, dos repteis aos reis da selva. E só assim, fraternalmente, é possível cuidar a casa comum, em cada dia, no momentos de lazer ou de trabalho, sempre que a nossa, a minha presença não deixa melhor, mais bonito, mais atraente, mais puro todos os locais por onde passo ou que habito. Está sempre em causa a casa de todos, todos…

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Agência ECCLESIA

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