Inocência, espanto, surpresa, poesia, identidade, reconhecimento, pertença, são palavras que conduzem a conversa com Margarida Bruto da Costa, psicóloga, que olha para as pessoas como «templos». O seu percurso profissional beneficiou do «dom», que reconhece ter, de facilmente estabelecer «intimidade» com as pessoas, concretizada na capacidade de escuta e de evidenciar a promessa que cada pessoa é. O percurso da sua vida, «feita de crise em crise», serenou quando se reconheceu e se sentiu pertença, «não a um país ou a uma comunidade», mas a algo maior, que quer também entregar aos outros. Por isso assume que a Igreja, «sendo a família maior que podemos ter», tem de ser lugar de pertença para todos, local onde a palavra «exclusão» não pode entrar.
«Vivemos na solidão as perguntas que fazemos. Se formos à procura, a resposta sai, mas poucas pessoas estão disponíveis porque o caminho é lento. O maior problema é a solidão, o não haver espaço e disponibilidade para este encontro pausado, em que estamos de mãos dadas com o outro e disponíveis para ouvir sem querer dar uma resposta apressada»
«Não acredito numa Igreja onde as pessoas não se podem sentir pertença. A Igreja é a família maior que há e não pode haver local onde não se pode ir. As pessoas excluídas tocam-me muito, talvez por causa da minha história. A exclusão é uma palavra que não me faz sentido. Tudo o que puder fazer para abraçar, escutar, reconhecer, eu farei»
«Eu não pertenço a um país, a minha segurança vem de algo maior. Não tem a ver com o sítio, uma cor, o local onde nasci, com a família no sentido estrito. Senti-me parte de uma família mais alargada. A procura da minha identidade e local de pertença, cuja busca me marcou, levou-me a procurar as minhas fontes e identificações, revelou-se um caminho»
«Deus gosta mais de nós quando estamos mais frágeis. Tal como com os nossos filhos, o nosso amor cresce: acolhe e faz avançar. Deus só quer abraçar-me: não quer mais nada, nem que eu faça ou diga coisas».