Mário Linhares diz que começa pelos olhos quando desenha retratos, contrariando até os métodos de ensino que identificam as linhas do rosto como o primeiro traço a fazer. O retrato, que privilegia fazer ao vivo, afirma, não engana e expõe toda a verdade da pessoa desenhada. Professor e Urban Sketcher assume não usar borracha, indica o erro o lugar da beleza e explica que se interessa pela arqueologia do desenho, aquela que mostra a história do artista e a hesitação do traço.
A sedução dos textos bíblicos, o “alargar quotidiano tal como fez Moisés quando ampliou o pasto do seu rebanho que o capítulo 3 do Livro do Êxodo conta”, levou Mário Linhares a procurar pontes entre a Bíblia e a sua vocação “primeira e mais clara”. A tese de doutoramento «O Espiritual no Desenho: dos textos bíblicos ao desenho quotidiano» mostra essa busca por autores contemporâneos que escrevam, pintem, cantem a influência dos textos bíblicos no quotidiano.
O valor do desenho confirmou-o nas viagens como leigo missionário da Consolata. Se um médico ou um professor são essenciais em aldeias remotas para garantir educação ou a única refeição diária, um artista que se senta na rua a desenhar o que vê, congrega à sua volta uma comunidade em torno da arte que os coloca em relação – isto é tão verdade na Guiné-Bissau como no Bairro do Zambujal, na periferia de Lisboa, onde os missionários trabalham ajudando a dignificar pessoas e a construir comunidade.
