Jornadas Pastorais para o Clero da diocese do Porto Depois de um primeiro turno, de 24 a 28 de Novembro, realizou-se, na Casa de Vilar, de 5 a 9 de Janeiro últimos, o segundo turno das Jornadas Pastorais, com o mesmo interesse e entusiasmo do primeiro, para uma representação muito significativa do Clero do Porto. Do programa constava, na sexta-feira, o Encontro com o Bispo Diocesano, Conclusões pastorais da Semana e Concelebração Eucarística seguida de almoço, programa este a que os participantes do primeiro turno, por sua propria e feliz iniciativa, fizeram questão de aderir. Ao tomar a palavra, o Senhor Bispo considerou sintomático que o grupo do primeiro turno tenha querido estar presente, de certo para significar o propósito de assumir e realizar colectivamente um programa comum. E foi perante cerca de uma centena de padres, entre os quais também se encontravam religiosos, que o Senhor Bispo começou por apresentar as suas preocupações pastorais, nestes tempos conturbados e laicizantes. Apresentou como a grande prioridade da Diocese a nova evangelização que, em muitos casos, já será a primeira, a partir da temática que foi testada nestas Jornadas. Considerou como urgente o problema das vocações a exigir uma especial atenção do clero e fiéis da Diocese: vocações para o sacerdócio, para a vida consagrada e para actividade apostólioca dos leigos, que todas elas são necessárias e devem despertar a consciência de uma mística de pertença à mesma Igreja. Em terceio lugar, mencionou a dimensão social da Igreja. Falou dos grandes esforços dos padres neste sector e da necessidade de se conseguir um maior equilíbrio e harmonia e também uma posição clara deste ambiente social que nos governa. Em quarto lugar, apontou a pastoral da Juventude, cujo Secretariado Diocesano terá a missão de desenvolver a consciência do que é uma juventude católica, diocesana, visível, capaz de responder a um apelo e tomar posição. Não ignora os esforços de vários grupos de jovens que trabalham na Diocese, mas há que lhes dar a consiciência de “corpo”. Por último, e como aspecto englobante, aquilo que chamou a lógica ou seja a fidelidade a uma tradição da nossa Igreja, que, longe de impedir, há-de favorecer e estimular a renovação e a novidade. No esforço de resposta aos novos desafios, não podemos deixar de prestar atenção àqueles que são o testemunho da fidelidade, da persistência, do exemplo naquilo que constitui a nossa Igreja. Após um intervalo de quinze minutos, a Assembleia retomou os seus trabalhos para a discussão das propostas de um projecto de animação bíblica da pastoral ao serviço da nova evangelização e que representam as conclusões da Jornadas. Consideradas as emendas sugeridas, com todo o clero a manifestar a sua anuência, o Senhor Bispo congratulou-se com o seu teor, aceitou o projecto que resolveu apresentar à apreciação das próxinas reuniões do Conselho Episcopal, dos Vigários da Vara e do Conselho Presbiteral. Apresentamos a seguir as conclusões das Jornadas Pastorais. AO SERVIÇO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO A BÍBLIA NO CENTRO DA PASTORAL E DA VIDA DA NOSSA IGREJA 1 – Na Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte, o Santo Padre convida a Igreja a fazer-se ao largo (Duc in altum), conforme o convite de Jesus a Pedro (Cf. Lc. 5, 4), e a enfrentar os desafios do futuro. Chamando a atenção para “o papel proeminente da Palavra divina na vida da Igreja”, que o Concílio assinalou, o Santo Padre reconhece os progressos que, desde então, têm vindo a ser feitos, aponta como exemplos o “lugar de honra que merece na oração pública da Igreja”, o recurso que a ela fazem “já em larga medida” “os indivíduos e as comunidades”, a revitalização que trouxe à “obra da evangelização e da catequese”, mas, mesmo assim, entende por bem acentuar que é preciso “consolidar e aprofundar esta linha”. (N.M.I. n.º 39). E não tem dúvidas em considerar como “uma prioridade da Igreja no início do novo milénio”, “alimentar-nos da Palavra para sermos ‘servos da Palavra’ no trabalho da evangelização”. Reconhece que “deixou de existir, mesmo nos países de antiga evangelização, a situação de ‘sociedade cristã’ que, não obstante as muitas fragilidades que sempre caracterizam tudo o que é humano, tinha explicitamente como ponto de referência os valores evangélicos” (n.º 40). Nessa mesma ocasião, na Clausura do Grande Jubileu, na Sé Catedral do Porto, o nosso Bispo D. Armindo Lopes Coelho, após reflexão e balanço com os Bispos Auxiliares, propôs como “orientações pastorais ajustadas às condições da nossa comunidade diocesana”, entre outras: – “A atenção à Palavra de Deus, com o empenhamento e organização dos nossos fiéis para ouvirem a Palavra, aprofundarem a cultura religiosa e enraizarem a sua fé.” – A necessidade de “intensificar e multiplicar o ministério da Palavra na actividade pastoral e ministerial … Há que dar lugar mais determinante à evangelização, quer a nível pessoal quer na dimensão e expressão mais eficiente dos movimentos que actuam na comunhão da Igreja e pela força do Espírito.” E na homilia da Missa Crismal de 2002, o Senhor Bispo, referindo-se a essas orientações pastorais, voltou a inisistir que as considerava prioritárias. No contexto de uma descristianização progressiva, não podemos contentar-nos com uma “pastoral de manutenção” e somos desafiados a uma acção pastoral de tipo mais acentuadamente evangelizador, mais atentos às zonas de descrença que crescem no meio de nós. 2 – No Ano Jubilar do nosso Bispo que culminará com a solene Concelebração Eucarística na solenidade da Anunciação do Senhor em que se completam os 25 anos da sua Ordenação Episcopal, conscientes da communio sacramentalis que faz dos presbíteros, especialmente os párocos, “os colaboradores mais íntimos do ministério do Bispo” como diz a Exortação Apostólica Pastores Gregis (n. 47), queremos fazer dessas orientações pastorais, como nos compete, o programa e o estímulo da nossa actividade pastoral e dispomo-nos a tentar levar à prática as conclusões das Jornadas Pastorais que para esse efeito se realizaram entre nós sob a superior coordenação do Director de La Casa de la Biblia de Madrid. E assim consideramos da maior importância: 2 – 1. Passar de uma “pastoral bíblica” à “animação bíblica de toda a pastoral”. A Bíblia não pode limitar-se a ser objecto de uma pastoral específica, mas, como o recomenda o Concílio, tem de animar toda a vida da Igreja. Analisando as nossas carências e também as nossas potencialidades, acreditamos na eficácia e na viabilidade do projecto de animação bíblica que nos é proposto. 2 – 2. Ter bem presente a recomendação que o Concílio dirige aos sacerdotes e a “todos os que exercem legitimamente o ministério da Palavra” para manterem “um contacto íntimo com as Escrituras, mediante a leitura sagrada e o estudo aturado”, lembrando a prevenção de S. Agostinho contra o perigo de “se tornarem pregadores vãos e superficiais da Palavra de Deus, por não a ouvirem de dentro” (DV. n.º 25). A esta luz, haverá que rever, porventura, o conteúdo da pregação e, especialmente, a preparação das homilias para que se inspirem mais directamente na Liturgia da Palavra, devidamente proclamada e bem enquadrada pela selecção dos cânticos e, a partir dela, se iluminem as situações em que vive a comunidade. 2 – 3. Em favor de todos os fiéis que também são exortados a tal “com ardor e insistência” pela Constituição Dei Verbum (n.º 25), promover uma iniciação à leitura crente da Bíblia, iniciação que não se limite a transmitir conhecimentos mas que constitua uma autêntica mistagogia que a transforme num verdadeiro diálogo entre Deus e o homem. Na Novo Millenio Ineunte (n.º 39), o Santo Padre afirma: “É necessário que a escuta da Palavra se torne um encontro vital, segundo a antiga e sempre válida tradição da lectio divina: esta permite ler o texto bíblico como palavra divina que interpela, orienta, plasma a existência” 2 – 4. Sugerir que as reuniões de Vigararia adoptem, desde já, como primeiro ponto de agenda esta lectio divina em grupo, segundo um itinerário e uma ficha de leitura a definir. 2 – 5 Para a concretização do projecto, organizar cursos de formação de animadores de grupos bíblicos, preferentemente leigos, escolhidos não necessariamente entre aqueles que mais sabem de Bíblia mas entre aqueles que mais capacidade têm para liderar equilibrada e cristamente um grupo. Nesses cursos procure-se fornecer mais do que uma formação bíblica exaustiva, uma habilitação pedagógica inicial, de acordo com as técnicas de dinâmica de grupos. 2 – 6. Promover, nas paróquias e com a colaboração de todos os seus membros, jornadas de sensibilização bíblica que, através da leitura da Palavra, sejam capazes de provocar uma experiência viva de encontro com Deus e de despertar o gosto pela continuação desta leitura e a adesão responsável a grupos bíblicos que se venham a formar. 2 – 7. Interessar os grupos pastorais já existentes em adoptar a lectio divina para alimento da sua vida espiritual e apostólica 2 – 8. Para a prossecução destes objectivos, constituir um grupo coordenador, com representantes das várias zonas pastorais, dos religiosos e religiosas, dos diáconos permanentes e dos vários sectores do apostolado, para acompanhar, estimular e esclarecer o caminho a percorrer no sentido de situar a Bíblia no centro da pastoral e da vida da nossa Igreja. Este grupo poderia ajudar a calendarizar as etapas do percurso, a seleccionar os modelos de leitura, a indicar e/ou fornecer bibliografia e materiais de trabalho etc. 3 – Apresentando ao nosso Bispo, neste ano jubilar, este sonho e este desafio que desejamos, seja também sinal da nossa comunhão espiritual e corresponsabilidade pastoral, esperamos a sua aprovação e apoio e contamos com a luz do Espírito Santo. Ele que inspirou os autores sagrados, estamos certos, nos ajudará também a nós a chegar a uma cada vez maior inteligência e vivência da Palavra de Deus. Porto, 9 de Janeiro de 2004