A beleza que há na tristeza

José Luís Nunes Martins

Só o verdadeiro pode ser belo. Uma falsa alegria nunca será bela, a menos que todos saibam que não há nela verdade. Nesse caso, sim, até pode manifestar uma beleza admirável.

Uma dor profunda não tem outra beleza que não a de nos fazer viajar para o mais íntimo da nossa alma, onde tudo é belo. Assim, quando algo nos fere, faz-nos mais humanos e, portanto, mais belos, porque mais verdadeiros.

A felicidade eleva-nos. O sofrimento revela-nos a profundidade da existência, bem como as raízes com que nos unimos aos outros.

Hoje evita-se a tristeza, a doença, a perda, o sofrimento, a morte – tudo o que aponta para a fragilidade da existência. Nada disso faz parte daquilo que hoje costuma ser partilhado. Por isso, quando algum de nós experimenta algo mau, ainda tem de o fazer sozinho. Dor em cima de dor. Só porque o mundo ensina que é feio tudo quanto não causa inveja.

Para sermos belos é essencial sermos bons. Devemos ser sensíveis às necessidades do outro, tomando-as como nossas. Amando sem nos preocuparmos em agradar a ninguém.

A mais sublime beleza é a dos que se distinguem, nunca a dos que se fazem notar.

A tristeza é bela porque é essencial à felicidade. Aponta-nos a verdade do que somos na fragilidade do que temos.

Esta vida a que chamamos nossa foi-nos dada, com todas as incertezas que decorrem também de sermos livres.

Pode a vida ser triste? Sim. Mas se for vivida com verdade, então será sempre bela e admirável.

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

 

Partilhar:
Scroll to Top