Em Évora, irmãs contemplativas rezam pelos Cristãos perseguidos

No Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, em Évora, em plena planície alentejana, 11 irmãs contemplativas rezam todos os dias pelos Cristãos perseguidos e em ligação estreita com a missão da Fundação AIS. As religiosas, de várias nacionalidades, vivem num mundo de silêncio e oração. E cada uma das irmãs reza em especial por alguns países onde a perseguição religiosa é mais acentuada. A madre superiora do mosteiro tem na sua lista a Nicarágua e a Líbia…
“É importante para nós que o mundo saiba que há um mosteiro num pequeno lugar, em Portugal, em Évora, onde as irmãs pensam e rezam todos os dias pelos Cristãos perseguidos.” A Irmã Maria Juxta Crucem é a madre superiora deste mosteiro que já foi casa de monges cartuxos. É holandesa, tem 52 anos, e tal como as outras 10 irmãs que vivem em Évora, os seus dias são marcados pelo silêncio, trabalho e oração. Mas há uma particularidade. Neste mosteiro, as religiosas, que pertencem ao Instituto das Servas do Senhor e da Virgem de Matará, têm como intenção particular rezar pela Igreja que sofre, pelos Cristãos perseguidos no mundo. E fazem-no em ligação estreita com a missão da Fundação AIS. “Temos mais de 20 mosteiros em todo o mundo e cada mosteiro do nosso instituto tem uma intenção particular de oração. Por exemplo, na Argentina rezam pela paz no mundo, e temos mosteiros que rezam pelas famílias. Este mosteiro em concreto tem a intenção de rezar pelos Cristãos perseguidos, e também para que cada cristão tenha o espírito de mártir. É por isso que nos sentimos tão unidas a vocês”, diz, referindo-se à Fundação AIS. “Nós estamos aqui para os ajudar, para os apoiar da forma que podemos, que é através da nossa oração. E é por isso que nos sentimos sempre unidos ao trabalho da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre”, explica a madre superiora.
Uma vida de oração e trabalho
O mosteiro é imponente e enorme. Por lá, nos claustros, há um imenso silêncio, apenas cortado pelo canto dos pássaros ou pelo som dos passos de alguma irmã. Por vezes, ao longe, parece escutar-se o ruído de carros em alguma estrada, mas pode ser apenas o vento. Maria da Expectação é brasileira, tem 35 anos, e embora seja religiosa há quase duas décadas, só em 2023 ingressou na vida contemplativa. É uma das 11 irmãs que em Évora tem como missão principal rezar pelos Cristãos perseguidos. “O nosso dia-a-dia aqui no convento é muito simples, é uma vida dedicada à oração. Nós rezamos a liturgia das horas, cantamos as horas litúrgicas, as laudes, as vésperas, as horas menores. Toda a nossa vida é uma vida de silêncio. E também trabalhamos. Então, desde a hora que acordamos até a hora que nos vamos deitar, o nosso dia é preenchido por esses dois aspectos: oração e trabalho. E sempre em silêncio, para que a nossa vida possa manter essa união com Deus”, explica a irmã. São 11 religiosas de várias nacionalidades: Brasil, Holanda, Argentina, Ucrânia e Chile. A mais velha tem 76 anos, é brasileira também, e ingressou na vida religiosa depois de o seu marido ter falecido. A mais nova é ucraniana. Tem 29 anos de idade. “A nossa vida – diz Maria da Expectação – é uma vida de sacrifício, de penitência. É uma vida escondida e separada do mundo. Nós oferecemos os nossos sofrimentos para apoiar os Cristãos perseguidos. Então, é uma vida de oração e de sacrifício.”
“Fazemos terços, doces para vender…”
Todos os dias, além de rezarem, as irmãs têm rotinas que cumprem no Mosteiro. Uma cozinha para todas, outra limpa a casa… “cada uma faz tudo para todas dentro do seu próprio ofício. Nós vivemos em comunidade. Só não nos comunicamos tanto pela nossa própria vida de clausura, que é uma vida de silêncio e de oração”, explica Maria da Expectação, que tem como missão assegurar o trabalho da sacristia e conseguir as doações que permitam que o mosteiro esteja de portas abertas. Mas há muito mais coisas que se vão fazendo todos os dias por estas mulheres de Deus. “Nós trabalhamos em muitas coisas. Precisamos de cuidar a manutenção do mosteiro, de colher as laranjas, de cortar os arbustos e o mato quando começa a crescer, tratar do jardim, cuidar da manutenção de tudo, porque a Cartuxa é muito grande. Além dos trabalhos de limpeza, também fazemos muitos trabalhos manuais para ajudar a sustentar a nossa vida. Bordamos, fazemos terços, fazemos doces para vender”, descreve a irmã brasileira. É uma vida de silêncio, oração e pobreza. “Isso é uma característica de todas as nossas casas. Nós vivemos a pobreza, temos de estar sempre pendentes da providência de Deus. Então, isso faz com que nós confiemos mais em Deus e ao mesmo tempo é uma possibilidade para que as pessoas também pratiquem a caridade”, acrescenta a Irmã Maria da Expectação.
Oração pelos Cristãos perseguidos
Mas o mais importante de tudo é a oração. E ali, no Mosteiro de Évora, reza-se em permanência pelos Cristãos perseguidos no mundo. A Madre Superiora, Irmã Maria Juxta Crucem, cujo nome significa Maria aos pés da Cruz, diz que todas as religiosas além de rezarem em geral pelas comunidades cristãs vítimas de intolerância religiosa no mundo, têm países em concreto sobre os quais rezam em especial. E fazem-no sempre procurando a informação dos relatórios, das notícias, das cartas que o secretariado português da Ajuda à Igreja que Sofre publica e envia constantemente a todos os seus benfeitores e amigos. “Claro que todas rezamos por todos os Cristãos perseguidos, mas esses são aqueles aos quais damos mais atenção. Por exemplo, eu tenho na minha lista a Nicarágua e a Líbia. Então, eu rezarei especialmente pelos cristãos que lá vivem. Dividimos esses países entre nós, também procuramos estar a par das notícias, das notícias que vêm dos vossos países, para saber quais são as vossas necessidades especiais. Sabemos que não podemos fazer mais nada a não ser rezar, mas também sabemos a importância da oração”, diz a madre superiora, enfatizando a importância, o poder da oração. “Sabemos que a oração é uma arma muito poderosa. Nós não usamos as armas que o mundo usa, usamos a arma que Deus nos dá. E essa arma é a oração. Vivemos aqui num mundo de silêncio. Talvez consigam ouvir os pássaros, mas é só isso que nós ouvimos. Procuramos viver todos os dias, unidas, todos os dias mais unidas a Cristo, a Deus, através de Nossa Senhora. Para nós, Nossa Senhora é muito importante”, acrescenta a Irmã Maria Juxta Crucem.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt
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