Aqui vamos, a olhar os Meios de Comunicação Social como quem olha para nós próprios, na procura da nossa identidade, no prolongamento das nossas histórias, no imaginário das nossas ficções. Os media só nos merecem atenção quando nos reflectem ou quando nos sentimos no interior de qualquer notícia, drama, ou festa, ou numa das tantas parábolas que quotidianamente nos contam, envolvendo o nosso melhor ou o pior do nosso complexo universo. Acabamos por ser proprietários, editores, produtores e consumidores, no alimento e continuidade que proporcionamos à feitura diária da narrativa das nossas vidas. Desta responsabilidade nenhum cidadão se livra quando espreita uma televisão ou quando poisa um olhar curioso sobre o título dum jornal ou se mira num qualquer plasma como espelho. Ou quando compra um livro pela força da capa ou pela sugestão do título. Do outro lado, eles, os patrões dos media, sabem disso, como se vigiassem a janela da nossa alma ou consultassem o livro íntimo das nossas preferências. E como o bom negociante nunca discute com o cliente – o cliente tem sempre razão – com as nossas escolhas vamos dando corda à máquina que nos tritura enquanto zurzimos anátemas impotentes contra os opressores. As correntes que se cruzam neste jogo secreto, as cumplicidades que se criam, geram as grandes teias que envolvem globalmente o nosso universo de que os media são a expressão, boca de saída de todas as correntes. É um erro pensar que os media são uma peça isolada da grande mecânica social e cultural. Desempenham funções especiais nesse motor complexo, lançam chispas e chamas sobre acontecimentos insignificantes antes de serem mediáticos. Ao colocar a humanidade em mesa redonda dão e tiram a voz ao poder ou ao povo, exaltam ou humilham a dignidade humana, geram uma consciência de verdade e justiça ou amolecem gerações com o vírus da mediocridade. Dom precioso do homem e da técnica, imparável na sua celeridade e perfeição, invadem o universo fantástico de informação e partilha, oportunidade de expressão e diversidade de olhares, abrem as portas a experiências planetárias de festa e dor, tornando a humanidade mais próxima e porventura mais fraterna. Sempre seduzida pela serpente do dinheiro e do poder, mas sempre passível de ser suplantada pelas energias infatigáveis que não deixam de puxar o barco da humanidade para a sua vocação original e sublime. Linhas de ferro deste comboio fantástico e veloz são a liberdade e a dignidade que sempre devem ser cultivadas e enriquecidas na expressão e no rigor com que a história da vida humana merece ser narrada. Por isso se celebra a Comunicação Social como um dom do nosso tempo, em “rápido desenvolvimento”. E com um preço de viagem nem sempre acessível a todos. E por vezes com riscos agravados por irresponsáveis timoneiros na alta velocidade dos media. António Rego