Francisco disse aceitar críticas do cardeal O’Malley e manteve defesa de bispo de Osorno
Lisboa, 22 jan 2018 (Ecclesia) – O Papa pediu hoje desculpa às vítimas de abusos sexuais pelo que considerou uma expressão menos “feliz” quando saiu em defesa do bispo de Osorno, no Chile, exigindo “provas” a quem o acusa de não ter agido.
“Em relação ao que sentem os que foram abusados, tenho de pedir desculpa. A palavra ‘prova’ feriu muitos deles”, referiu aos jornalistas que o acompanharam na última madrugada no voo de regresso a Roma, desde o Peru.
Francisco disse ter tomado consciência de que a expressão “não foi feliz”.
“Peço-lhes desculpa se os magoei sem me aperceber disso, fi-lo sem intenção”, acrescentou.
Na última quinta-feira, final da sua visita ao Chile, Francisco reafirmou a confiança no bispo de Osorno, D. Juan de la Cruz Barros, nomeado em janeiro de 2015 para o cargo; o prelado tem sido contestado pelo clero local e por outros setores da sociedade chilena por ter, alegadamente, encoberto um caso de abuso sexual cometido por um sacerdote, o padre Karadima.
“No dia que me trouxerem uma prova contra o bispo Barros, então eu falarei. Não há uma única prova contra ele. São tudo calúnias. Está claro?”, disse então Francisco um jornalista da rádio Bio Bio que o questionou sobre o tema.
Esta declaração do Papa foi comentada pelo cardeal Sean O’Malley, arcebispo de Boston e presidente da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores (Santa Sé), considerando ser “compreensível” que a expressão de Francisco pudesse ser vista como “fonte de grande dor para os que foram vítimas de abuso sexual”.
Questionado pelos jornalistas sobre esta intervenção de um dos seus colaboradores, o Papa começou por sublinhar que os dois estão alinhados na política de “tolerância zero” quanto aos abusos sexuais.
“A declaração de [cardeal] O’Malley foi muito justa, agradeci-a. Falou da dor das vítimas em geral”, observou Francisco.
O pontífice assinalou que, “infelizmente”, muitas vítimas não têm forma de provar esses abusos ou sentem “vergonha” dos mesmos.
“Recentemente, por exemplo, encontrei uma mulher abusada, de 40 anos, casada e com três filhos. Esta mulher já não comungava porque na mão do padre via a mão do seu abusador”, relatou.
Francisco voltou ao caso de D. Juan de la Cruz Barros, afirmando que não existem “evidências” para o condenar, mantendo, por isso, a presunção de inocência.
“Não há qualquer evidência de que tenha encoberto [casos de abuso]. Repito: estou disponível para receber uma evidência, mas de momento não há”, acrescentou.
O Papa adiantou que a nova constituição da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores está a ser estudada pela Santa Sé dentro dos “tempos normais”, sem que exista qualquer intenção de deixar cair esta estrutura.
Francisco falou ainda da situação do Instituto Sodalício de Vida Cristã, cujo fundador, Luis Fernando Figari, também foi acusado de abusos, lamentando a existência de “corrupção” na Igreja.
“Bento [XVI] não tolerava estas coisas e eu aprendi com ele a não tolerá-las”, observou.
O Papa regressou hoje a Roma, após uma viagem na qual percorreu cerca de 30 mil quilómetros, com passagens por seis cidades chilenas e peruanas.
OC