A Turel – Cooperativa de Desenvolvimento do Turismo Cultural e Religioso avança, no início do próximo ano, com um projecto pioneiro e inovador, denominado “Peregrino dos Santuários”. A ideia consiste em fornecer, a cada peregrino, elementos de informação e compreensão sobre cada santuário, contribuindo, ao mesmo tempo, para a recuperação do sentido e do espírito de peregrinação aos lugares e templos cristãos. Segundo o presidente da direcção, Cónego Eduardo Melo Peixoto, o número de peregrinos tem aumentado significativamente na região Norte, a julgar pelas solicitações que chegam às enfermarias dos santuários ou dos serviços que a Cruz Vermelha disponibiliza frequentemente. Monsenhor Melo afirmou ontem, na apresentação do novo produto, que as Confrarias e Irmandades têm promovido melhorias «numa atitude muito positiva de acolhimento». Em seu entender, Portugal deve tomar como exemplo o trabalho que o Governo da Galiza e os operadores turísticos têm vindo a desenvolver no sentido de dar visibilidade aos Caminhos de Santiago, talvez o principal produto de turismo cultural e religiosa de Espanha. Monsenhor Eduardo Melo adiantou que o objectivo da Turel é fazer do produto “Peregrino dos Santuários” uma alternativa nacional ao produto “Caminhos de Santiago” e atrair novos visitantes nacionais e estrangeiros. A iniciativa envolve, na fase experimental, sete templos: Nossa Senhora de Porto d’Ave, Póvoa de Lanhoso; São Torcato, Guimarães; S. Bento da Porta Aberta, Terras de Bouro; Nossa Senhora da Penha, Guimarães; Nossa Senhora da Abadia, Amares; e Nossa Senhora do Sameiro e Bom Jesus do Monte, Braga. Depois de consolidado, o projecto agregará outros templos de várias regiões do país. Os santuários de Nossa Senhora da Franqueira, em Barcelos; e de Nossa Senhora do Carmo, em Famalicão, são os próximos candidatos em lista. Mas, numa fase inicial, a Turel quer analisar a eficácia e sucesso da experiência. O Cónego Melo está convicto de que no final da primavera já haverá novos elementos que permitirão consolidar o produto “Peregrino dos Santuários” e a sua evolução será monitorizada. O responsável pela Turel advertiu que a Cooperativa criou o conceito, mas sozinha não consegue organizar e estruturar as actividades necessárias para a sua concretização. Por isso, apelou à colaboração das Câmaras Municipais, Confrarias, Juntas de Freguesia e outras entidades. Os sete santuários que integram o projecto piloto recebem mais de cem mil peregrinos por ano, ex-cluindo os simples visitantes. Um levantamento efectuado pela Turel dá conta de que São Bento acolhe 30 mil; Sameiro perto de 20 mil; Bom Jesus também à volta de 20 mil; Abadia sete mil aproximadamente; Penha mais de 10 mil; São Torcato oito mil em média e Porto D’Ave cerca de 7 mil. Recuperar trilhos “perdidos” na memória Uma segunda fase do projecto “Peregrino dos Santuários” contempla a descoberta, recuperação e sinalização de caminhos trilhados pelos peregrinos em direcção aos vários santuários, alguns dos quais perdidos na memória do tempo. Uma medida que contribuirá para diminuir o esforço da caminhada e aumentar a segurança das muitas pessoas que todos os anos rumam por devoção aos locais de culto. Em muitos locais, os peregrinos têm de partilhar a estrada com os automobilistas, o que representa um verdadeiro perigo. Por isso, os condutores serão também sensibilizados para o facto de haver determinados trajectos onde circulam pessoas em peregrinação. Mas, para já, a materialização do novo conceito passa pela distribuição de um guião, uma credencial e um certificado, explicou o técnico de turismo Varico Pereira. O guião contém informação sobre cada santuário, desde datas das peregrinações, história breve do mesmo e conselhos úteis para a peregrinação a pé. A credencial testemunhará os vários locais de partida, passagem e chegada. O certificado atesta a condição de “Peregrino dos Santuários”. Varico Pereira referiu que para ser “Peregrino dos Santuários” é necessário percorrer o caminho a pé, de bicicleta ou a cavalo; realizar um percurso por cada santuário e, ao completar quatro, receberá a certidão oficial. Os trajectos têm de ficar registados na credencial do Peregrino, através dos carimbos de várias entidades – paróquias, santuários e outras estruturas – para que depois lhe seja atribuído um certificado. O director operacional Américo Rodrigues explicou que o novo produto tem três componentes importantes. Começa por fomentar a distribuição de riqueza, uma vez que os peregrinos ao chegarem de forma estruturada passam por restaurantes, cafés, casas de artesanato, assim como por outros locais de venda. Depois, promove o turismo saudável, porque as pessoas desfrutam da natureza que envolve estes espaços de culto. Por último, é um instrumento importante para recuperar o verdadeiro sentido da peregrinação, ou seja, um percurso, por vezes difícil, que ajuda no encontro da pessoa consigo mesma, com os outros e com Deus. [Elisabete Carvalho]
