Culpa

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

É habitual em conversas informais ou até mesmo em reflexões mais aprofundadas depararmo-nos com referências em tom de lamento aos conceitos de culpa e responsabilidade. Ou a confusões entre legalidade e moralidade, como se a ausência de uma condenação jurídica tornasse legítima qualquer ação.

O primeiro âmbito de resposta, nestes casos, é o da própria consciência. Admito que não seja fácil, num tempo de julgamentos públicos e sumários nos ‘tribunais do Facebook’, mas cada um deve saber como lhe pode ser imputada determinada ação e qual a sua intervenção nas consequências, sobretudo quando as mesmas têm um efeito criminoso.

Julgo que a ideia de “culpa” está demasiado associada à ideia de “bodes expiatórios”, de encontrar uma justificação fora de nós quando algo corre mal. Nota-se na vida pessoal, política, social, desportiva, até religiosa. Parece sempre ser preciso ter algo ou alguém para atirar à sua sorte, no deserto dos valores, carregando frustrações, desesperanças, ilusões, erros.

A consciência da culpa não é, na tradição cristã, o fardo que vários filósofos nos quiseram fazer crer: a última palavra é sempre do Bem, da Misericórdia, da conversão de que o coração humana é capaz quando se entregue a quem é maior do que ele próprio. Deve ser um ponto de partida para uma existência melhor, com a consciência dos limites que existem, para poder assumir responsabilidades e progredir, sem autocomiseração, confiando na ajuda dos outros e do Outro.

Na nossa vida em comunidade, espero que a determinação do que correu mal em tragédias recentes ajude a determinar esse futuro melhor, identificando culpados (porque não basta encolher os ombros e dizer que não era possível fazer nada) e assumindo responsabilidades, de forma séria e respeitosa por quem sofreu na pele as consequências do mal. Há uma lição a tirar dos repetidos alertas anuais e das sucessivas devastações provocadas pelo fogo: não basta uma solidariedade que responda aos problemas, após os incêndios, mas é necessária uma solidariedade preventiva, onde todos se empenhem a fundo para evitar os problemas.

Octávio Carmo

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