Responsável pelo projeto Economia de Comunhão apresentou em Lisboa o seu novo livro
Lisboa, 19 abr 2017 (Ecclesia) – O novo livro de Luigino Bruni, responsável mundial pelo projeto ‘Economia de Comunhão’, procura introduzir um novo vocabulário, mais humano e solidário, num setor económico dominado pela lógica de mercado.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o professor de Economia Política nas Universidades de Roma e de Milão alerta para o facto de hoje “os valores económicos estarem a sobrepor-se aos valores sociais”, com base em conceitos como “a eficiência, a meritocracia, os incentivos, categorias tipicamente relacionadas com o negócio económico”.
“Nos últimos 20 anos, parece que recorremos a estas categorias para explicar tudo, desde a política à saúde, passando pela justiça ou a educação. E esta realidade tem colocado de lado valores não-económicos que são essenciais, também para o mundo do negócio”, aponta aquele responsável.
Assim, na sua nova obra, Luigino Bruni quer realçar conceitos que têm estado a ser descartados por “esta lógica de negócio”, como “a humildade, a misericórdia, o afeto, a compaixão”.
“Que são tudo categorias fundamentais para a vida, também das empresas mas que estas tendem a destruir”, acrescentou.
O projeto de Economia de Comunhão nasceu há 25 anos a partir da ação de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, que propôs aos empresários fundarem empresas que, seguindo as leis de mercado, produzissem rendimentos que depois pudessem ser colocados ao serviço do desenvolvimento
Em fevereiro deste ano, o Papa Francisco recebeu em Roma representantes da Economia de Comunhão vindos de diversos países.
De acordo com Luigino Bruni, o encontro com o Papa argentino foi muito importante para perspetivar o futuro do projeto e o modo como ele deve ser proposto ao mundo.
“Ele disse-nos que meter o dinheiro, os bens materiais e as receitas em comunhão é uma reação anti-idolátrica, porque o dinheiro é um dos grandes ídolos do nosso tempo. E depois que nós devemos abrir esta experiência a todos, não só àqueles que estão no nosso meio. Só doando é que a comunhão se pode manter”, explicitou.
A obra “À Procura de Novas Palavras para uma Economia Humana” foi apresentada esta terça-feira em Lisboa, numa sessão que contou com a presença do presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), Pedro Vaz Patto.
O juiz recordou que na base da CNJP, e “de todas as comissões justiça e paz, nacionais e diocesanas”, está a encíclica ‘Populorum Progressio’, publicada há 50 anos pelo Papa Paulo VI.
Um documento que “fala do conceito de desenvolvimento humano integral”, que está também na génese da Economia de Comunhão.
O que se pretende é “que a economia não seja um capítulo à parte da vida em geral”, referiu Pedro Vaz Patto, que abordou também o papel que a Igreja Católica poderá ter rumo a uma necessária mudança de paradigma.
“A Doutrina Social da Igreja tem uma componente de denúncia, de crítica ao sistema vigente, mas também uma componente de proposta, e é neste âmbito que se insere a Economia de Comunhão”, realçou.
O presidente da CNJP frisou que a adesão à Economia de Comunhão será sempre “uma conversão na liberdade e isso supõe também uma conversão interior que poderá passar “pela mensagem cristã”.
A apresentação do novo livro de Luigino Bruni teve lugar no auditório da Fundação Montepio, em Lisboa, com a participação dos professores Helena Marujo, Luis Miguel Neto e Rogério Roque Amaro, e também do responsável pela Associação Nacional para uma Economia de Comunhão, José Maria Raposo.
JCP