Criar uma cidade comunitária

Objectivo da Comunidade Vida e Paz que recebeu hoje o prémio Gulbenkian-Público “Acção Solidária” A Comunidade Vida e Paz, organização católica que apoia cerca de meio milhar de pessoas sem-abrigo, sobretudo na área de Lisboa, recebeu, dia 20 de Outubro, o Prémio Gulbenkian-Público “Acção Solidária”. A irmã Maria Gonçalves, mentora deste projecto e presidente da Comunidade Vida e Paz (CVP), disse à Agência ECCLESIA que este prémio “é mais uma fatia que vem ajudar a desenvolver os nossos projectos em favor da população mais excluída”. Atribuído este ano pela primeira vez desde a sua criação, em 2003, o prémio foi instituído pela Fundação e pelo jornal “Público” para distinguir pessoas ou instituições portuguesas com actuação relevante, meritória ou inovadora na promoção do ser humano. “É gratificante saber que o nosso trabalho é reconhecido referiu a Irmã Maria Gonçalves. “Dar a mão aos mais necessitados” – acentua a presidente da CVP. Essa promoção inclui o apoio social a grupos desfavorecidos ou a resposta a problemas sociais emergentes que afectam a sociedade portuguesa, como é o caso dos sem-abrigo, a quem a Comunidade Vida e Paz se dedica desde o final dos anos 80. Um grupo de católicos liderado pela Irmã Maria Gonçalves Martins fundou a Comunidade para promover a “realização pessoal deste grupo desfavorecido e socialmente excluído, procurando formas de os integrar na sociedade”. Diariamente, centenas de voluntários distribuem refeições e agasalhos a mais de quinhentos sem-abrigo na capital. A distribuição da refeição é sobretudo um “pretexto” para estabelecer um contacto com estas pessoas e “convidá-las a falar sobre a sua vida, para posteriormente se fazer um trabalho de reinserção”, explicou. Com uma equipa multidisciplinar, “oferecemos um percurso de reabilitação, com cerca de 13 meses”. Todos os dias, os voluntários da Comunidade percorrem três circuitos em Lisboa, que passam pelas zonas dos Anjos, Santa Apolónia, Baixa, e Praça da Alegria, para entregar aos sem-abrigo uma refeição “e uma palavra amiga, que, muitas vezes, faz a diferença numa vida sem esperança”. Os 25 mil Euros – valor do prémio – será aplicado na “consolidação do tratamento” porque “aumentámos o número de camas”. Contactam com “uma população complexa e diversificada, composta por toxicodependentes, dependentes de álcool, pessoas com problemas psicológicos e outros que, por circunstâncias da vida ou desavenças familiares, abandonaram tudo e foram viver para a rua” – descreveu. Actualmente, a Comunidade Vida e Paz tem mais de 200 camas para “tratamento permanente”. Ao longo do ano saiem “cerca de 100 jovens para a sociedade depois de fazerem o percurso de reabilitação”. Em esta tenha de “continuar toda a vida” – mencionou a Irmã Maria Gonçalves. Olhando para a sociedade contemporânea, a presidente da CVP sublinha que “infelizmente os estudos apontam para o aumento da pobreza”. Um ciclo vicioso que leva cada vez mais pessoas “para as ruas”. Perante esta situação, a irmã Maria Gonçalves apela para a “construção de uma cidade comunitária” onde se “criariam habitações, postos de trabalho e apoio à saúde”. Um dos objectivos da Comunidade para os próximos tempos. A Comunidade possui centros de apoio em Alvalade, Mafra, Venda do Pinheiro e em Fátima, e também centros de reinserção em Leiria, Damaia, além de uma casa para idosos em Mafra.

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