Prémio para a Comunidade Vida e Paz

A Comunidade Vida e Paz, organização católica que apoia cerca de meio milhar de pessoas sem-abrigo, sobretudo na área de Lisboa, recebe hoje o Prémio Gulbenkian-Público “Acção Solidária”, anunciou a Fundação Gulbenkian. Atribuído este ano pela primeira vez desde a sua criação, em 2003, o prémio foi instituído pela Fundação e pelo jornal “Público” para distinguir pessoas ou instituições portuguesas com actuação relevante, meritória ou inovadora na promoção do ser humano. Essa promoção inclui o apoio social a grupos desfavorecidos ou a resposta a problemas sociais emergentes que afectam a sociedade portuguesa, como é o caso dos sem-abrigo, a quem a Comunidade Vida e Paz se dedica desde o final dos anos 80. Um grupo de católicos liderado pela Irmã Maria Gonçalves Martins fundou a Comunidade para promover a realização pessoal deste grupo desfavorecido e socialmente excluído, procurando formas de os integrar na sociedade. Diariamente, três centenas de voluntários distribuem refeições e agasalhos a cerca de quinhentos sem-abrigo, disse à Agência Lusa o vice-presidente da entidade premiada, José Marques. A distribuição da refeição é sobretudo um «pretexto» para estabelecer um contacto com estas pessoas e «convidá-las a falar sobre a sua vida, para posteriormente se fazer um trabalho de reinserção», explicou. Todos os dias, os voluntários da Comunidade percorrem três circuitos em Lisboa, que passam pelas zonas dos Anjos, Santa Apolónia, Baixa, e Praça da Alegria, para entregar aos sem-abrigo uma refeição «e uma palavra amiga, que, muitas vezes, faz a diferença numa vida sem esperança». Contactam com «uma população complexa e diversificada, composta por toxicodependentes, dependentes de álcool, pessoas com problemas psicológicos e outros que, por circunstâncias da vida ou desavenças familiares, abandonaram tudo e foram viver para a rua», descreveu o responsável. A Comunidade rejeita «a caridadezinha» e aposta sobretudo na tentativa de «transformar cada pessoa em alguém que volte a viver por inteiro, tenha auto-estima e seja útil à sociedade». A partir do contacto segue-se o acompanhamento para procurar reconstruir uma vida: ir ao Centro de Saúde, renovar documentos, fazer acompanhamento de desintoxicação, entre outro tipo de apoios que devolvam «o gosto pela vida e a confiança em si próprio». Para José Marques, o Prémio Gulbenkian-Público em Desenvolvimento Social e Humano “Acção Solidária” é o «reconhecimento de um trabalho intenso e longo», mas «não é pelos prémios que a Comunidade Vida e Paz se dedica a esta missão». Quanto ao valor pecuniário — de 25 mil euros — «constitui um apoio importante porque nem todo o trabalho é feito por voluntários». A Comunidade possui centros de apoio em Alvalade, Mafra, Venda do Pinheiro e em Fátima, e também centros de reinserção em Leiria, Damaia, além de uma casa para idosos em Mafra.

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