Portugal: Igreja Católica é um «fator de contenção» de movimentos populistas

Marcelo Rebelo de Sousa apresentou em Braga um testemunho sobre «os católicos e a democracia»

Braga, 18 fev 2017 (Ecclesia) – O presidente da República disse na abertura do ciclo de conferência ‘Nova Ágora’ que a Igreja Católica em Portugal é fator de “inclusão”, de “contenção de movimentos populistas” e tem na sua história percursores da “democracia social”.

A Arquidiocese de Braga iniciou esta sexta-feira a 3ª edição do ciclo de conferências ‘Nova Ágora’, no Auditório Vita, com uma conferência de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o tema ‘Os católicos e a democracia: um testemunho’.

Para o presidente da República, a Igreja Católica “constitui hoje um fator de integração e de inclusão social, nas suas posições em relação aos migrantes, aos refugiados, e é um fator de contenção do que se tem chamado movimentos populistas, existentes noutras sociedades”.

“Não é só, mas é também a Igreja Católica a cumprir a missão de inclusão social, decisiva em tempo de crise e de saída de crise, e conter tentações ditas populistas, radicais, que acabam por ser portadoras de sacrifícios para os direitos concretas das pessoas”, acrescentou.

O professor de direito fez uma apresentação sobre a participação dos católicos na construção de regime democrático, lembrando que, antes da democracia, o Estado e Igreja Católica aprenderam com “duas lições”: por um lado o confronto que marcou a Primeira República e, por outro, a dependência “excessiva” que se seguiu ao regime concordatário de 1940.

Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que “o núcleo duro da democracia portuguesa, que ainda hoje corresponde a um sistema partidário dos mais estáveis da Europa, tinha como uma das componentes, não a única, o pensamento católico social, repartido por vários partidos”.

“Nos debates intensos na revolução e, no meio da revolução, na Constituinte, estávamos lá muitos que tínhamos essa inspiração católica, repartidos por várias bancadas, e que, de alguma maneira, testemunhámos num debate muito intenso e muito radicalizado alguns traços da inspiração cristã”, recordou.

O presidente da República indicou, como exemplo, a “ideia do personalismo cristão”, da “dignidade da pessoa”, a “listagem de direitos fundamentais”, o “civilismo”, a defesa da liberdade de ensino, da descentralização, do europeísmo e a “capacidade ampla para a inclusão social, para a democracia social”.

“Tudo isto não é monopólio do pensamento católico, mas tem forte influência do pensamento católico”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa.

Após a comunicação sobre o tema ‘Os católicos e a democracia: um testemunho’, o presidente da República respondeu a questões dos participantes, desafiando os católicos à intervenção pública, porque “mais vale intervir em excesso cometendo erros a não intervir”, e referindo-se na ocasião ao debate em curso sobre a eutanásia para afirmar que defende um “debate longo, sério, exaustivo sobre a matéria” e só intervém “no momento oportuno”.

Marcelo Rebelo de Sousa disse também que não tenciona “escrever memórias”, porque diz o que tem a dizer, e não se preocupa com a imagem que as pessoas fazem do presidente da República porque o mais importante é o “dever de consciência de fazer uma coisa ou outra”.

Depois da intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa, o ciclo de conferências ‘Nova Ágora’ vai prosseguir nos dias 17, 24 e 31 de março, no Auditório Vita, com mais três temas para refletir: Multiculturalismo, Saúde e Qualidade de Vida, e a Era Digital.

PR

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Agência ECCLESIA

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