Lembrar os mais pobres e os sem-abrigo

O Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza e dos Sem-abrigo foi ontem assinalado um pouco por todo o mundo, com os olhos postos nos mais desprotegidos da nossa sociedade. Portugal acordou recentemente para a verdadeira dimensão deste problema entre nós, quando vários estudos mostraram que a pobreza ameaça um em cada cinco portugueses. “Estes últimos governos não passaram do discurso à prática. Falam muito da acção social mas nem para o diálogo estão abertos” – denunciava o Pe. Agostinho Jardim, presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, a propósito do relatório da agência Habitat, das Nações Unidas, onde se aponta que 22% da população portuguesa (dados relativos ao período entre 1996 e 2000). “Já tínhamos consciência que os números eram estes, por causa do desemprego a subir, idosos a aumentar, imigrantes a entrar, a escola no estado em que está e a Saúde com dificuldades”, adiantava à Agência ECCLESIA. O estudo, que avalia o estado das cidades do planeta, coloca a população portuguesa em segundo lugar – entre os antigos 15 membros da União Europeia e apenas atrás da Grécia – nos níveis de pobreza europeus. Portugal surge ainda referenciado no que toca ao número de sem-abrigo, com o documento a referir, citando dados oficiais, que em 2000 havia 1.300 pessoas a viver nas ruas de Lisboa e cerca de um milhar nas do Porto. Ao passar de noite pelas ruas das grandes cidades, é impossível não olhar para pessoas que se deitam nas soleiras das portas das habitações ou lojas comerciais para ali passarem a noite. Há inúmeras instituições solidárias que se empenham na reabilitação destas pessoas, sabendo que não vale a pena propor-lhes um espaço para irem lá dormir, um refeitório fixo para irem lá comer, uns chuveiros para lá irem tomar banho. É preciso construir sociedades onde todos tenham lugar, onde ninguém se sinta excluído. Henrique Pinto, director da revista CAIS, considera que “a população portuguesa tem vindo a ganhar uma maior consciência de que problemas como a pobreza ou a exclusão social dizem respeito a todos”. A CAIS é uma Associação de Solidariedade Social sem fins lucrativos. Nasceu em 1994 e a sua missão situa-se no apoio à reinserção social da população sem-abrigo em Portugal. Com a publicação de uma Revista, vendida exclusivamente pelos sem-abrigo, e mais recentemente, com a Ponte Digital, a CAIS tem procurado re-introduzir no mundo das relações interpessoais e do trabalho, homens e mulheres à margem. Na Igreja Católica, o exemplo vem da Comunidade “Vida e Paz”, fundada no final dos anos oitenta, por iniciativa da Irmã Maria Gonçalves Martins e de um grupo de católicos, para assistir os sem-abrigo, procurando fomentar neles a consciência da sua dignidade humana e a capacidade da sua realização pessoal. Mobiliza mais de 300 voluntários que acompanham diariamente mais de cinco centenas de sem-abrigo a quem serve refeições e procura incentivar a aderirem a programas de reinserção social que a própria organização desenvolve nos seus três centros.

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