Paulo Rocha, Agência ECCLESIA
Construir pontes em vez de muros, estar na fronteira e não no interior de muralhas, habitar as periferias recusando a auto-referencialidade. É este o programa do Papa Francisco, expresso insistentemente desde a primeira hora por mensagens e sobretudo por gestos, pela surpresa dos seus gestos. Em causa estão atitudes que permitem o abandono de estratégias de poder como meio de consolidação de um grupo, elegendo a atenção ao outro, a qualquer outro, com todas as fragilidades e diferenças, como a melhor opção para dar vitalidade a uma família que marca a história da humanidade e tem por imperativo, em todos os tempos, seguir uma Pessoa, Jesus Cristo.
O Papa que veio “quase do fim do mundo” vive esta determinação e força a mudança de paradigma naqueles que com ele colaboram diretamente e na instituição que anima, no decorrer deste pontificado. Uma insistência que dá relevância crescente à palavra “reforma”. E exige uma outra, a palavra conversão, para que se compreendam os meios e os fins propostos por Francisco e sobretudo sejam dados passos efetivos nesse itinerário.
No último discurso à Cúria Romana, nas proximidades do Natal, Francisco dizia que reformar dá vida, é sinal de vitalidade e a única forma de apagar manchas do passado, ou seja os erros e os pecados. Dirigindo-se aos cardeais e outros responsáveis pelos órgãos do Vaticano, o Papa sublinhou que “a reforma não é fim em si mesma, mas constitui um processo de crescimento e sobretudo de conversão”, não tem uma “finalidade estética, como se se quisesse tornar mais bela a Cúria” através de qualquer “maquilhagem” para “embelezar o velho corpo curial” ou de uma “operação plástica para tirar as rugas”. E concluiu: “Amados irmãos, não são as rugas que se devem temer na Igreja, mas as manchas!”
O Papa Francisco sugere, assim, uma autêntica caminhada quaresmal para o seu pontificado, propondo reformas que exigem conversão, pessoal e pastoral. E vai sugerindo pistas, nos encontros que mantém, nos documentos que publica, nos projetos que concretiza.
A Mensagem do Papa para a Quaresma contém mais um conjunto de sugestões que possibilitam o acontecer da conversão e, por essa via, a concretização de um programa de reformas. Uma vez mais em torno do rico e do pobre, primeiro referindo a parábola de Jesus e depois aplicando-a ao quotidiano de cada tempo, onde a história é constantemente reescrita. Só o nome dos intervenientes e o enredo, porque as conclusões permanecem com a mesma acuidade, agora como há dois mil anos.
Paulo Rocha