George W. Bush e John Kerry tentam conquistar eleitores afirmando-se como homens de fé O presidente norte-americano George W. Bush e o candidato democrata à Casa Branca, John Kerry, assumiram-se como homens de fé no último confronto televisivo entre ambos antes das eleições presidenciais nos EUA. Bush disse em público, mais uma vez, que a fé desempenhava “um grande papel na sua vida” e que reza muito. “Rezo para pedir força e sabedoria, pelos nossos soldados, pela minha família”, sublinhou no debate, que decorreu no Arizona. Kerry, por seu turno, disse que “a minha fé impregna toda a minha vida”. Ao contrário do que seria de supor, é Kerry, um católico, o candidato que tem sido mais contestado pela hierarquia nos EUA. Tudo por causa das suas posições em favor do aborto. “Respeito o ponto de vista dos Bispos Católicos, que condenaram o aborto, mas estou em desacordo com eles”, disse Kerry no debate de ontem. Assumindo-se como católico, o candidato democrata referiu que “mesmo pensando que tudo o que se faz na vida é guiado pela fé, não deixo que isso interfira de modo oficial na vida das pessoas”. Nesse sentido, fez referência à figura de John F. Kennedy para afirmar que “não se faz campanha para ser um presidente católico, mas para ser um presidente que é católico”. Esta não foi a primeira vez que os dois candidatos às próximas eleições presidenciais dos EUA utilizaram a religião no seu debate político. Em entrevistas concedidas à revista católica norte- americana Catholic Digest, os dois candidatos à eleição de 2 de Novembro colocaram a sua fé acima de tudo, evitando os assuntos que possam ser considerados polémicos. George W. Bush, protestante, afirma “acreditar num poder superior” e “não esconder que a fé” o influencia. “A América é um país à parte. Sempre pudemos constatar que a liberdade, individual e colectiva, é um dom do Todo-poderoso que nenhum mortal pode recusar a ninguém. E construímos uma nação em conformidade com esta crença”, acrescenta. No plano político, declara-se contra a eutanásia, favorável a uma “cultura da vida” e a “uma emenda constitucional que preserve a integridade do matrimónio”. John Kerry, católico, refere à revista que, enquanto tal, “a fé foi um guia, uma bússola moral e uma força” ao longo de toda a sua vida. “A fé deu-me valores e esperança para construir a minha vida, desde o Vietname até agora, domingo após domingo. Ser católico tem implicações profundas na maneira como avalio a minha candidatura à presidência”, afirma. Referindo-se ao seu programa político, John Kerry realça que ele “tem as suas raízes em valores que os católicos conhecem bem: “liberdade, família, trabalho, oportunidades, igualdade, responsabilidade, patriotismo e fé”. A candidatura de Kerry coloca, 44 anos depois da de John F. Kennedy, a questão do “eleitorado católico”, mas num contexto social e cultural muito transformado. Hoje é mais oportuno falar em “eleitores católicos” ou “católicos que votam”, dado que os conflitos sociais e políticos não se radicam em questões religiosas e o comportamento eleitoral dos católicos segue, em larga medida, o dos outros eleitores. “Liberdade de consciência mas só depois de se ter informado a fundo sobre os ensinamentos da Igreja” é a fórmula que deve orientar a decisão política de um católico segundo o cardeal Theodore McCarrick, arcebispo de Washington e presidente da comissão da USCCB encarregada das relações entre os católicos e a vida pública.
