Dia Mundial da Paz: Papa reforça noção da terra como «casa comum» – Adriano Moreira

Os Estados, o Islão, Guterres e o futuro da ONU na reflexão do sociólogo português sobre a mensagem do Papa Francisco

Lisboa, 31 dez 2016 (Ecclesia) – O professor Adriano Moreira diz que a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz quer tocar “cada pessoa” e reforçar as noções de “mundo único” e de “terra casa-comum” que estão arredadas da humanidade.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, no âmbito do 50.º Dia Mundial da Paz que vai ser celebrado este domingo, o professor universitário destaca ameaças como a dificuldade em caraterizar a origem, os “centros” dos conflitos, e o retorno a um fenómeno oriundo de uma época que se pensava “finda”, ou seja, a “uma estratégia orientada por motivos religiosos”.

“Os centros de poder em grande parte não são Estados, são até de identidade ignorada e isso é um facto muito importante porque em vez de haver ordem há uma espécie de desordem global”, aponta o especialista em Ciência Política e Relações Internacionais.

Por outro lado, acrescenta Adriano Moreira, a atuação dos grupos terroristas, dentro do “Islão”, veio ainda reforçar mais esta noção de “guerra aos pedaços” que é sublinha pelo Papa.

Tudo isto “implica que a afirmação ou reconhecimento de uma ordem seja muito difícil”, e aqui o autor do livro ‘Portugal e a Crise Global’ dá como exemplo as Nações Unidas onde parece hoje haver “nações mais iguais do que outras” e onde muitos países, “muitas populações novas não se sentem suficientemente representadas”.

“E o que é que acontece com a chegada do nosso novo secretário-geral em que todos pomos esperanças?”, questiona Adriano Moreira, referindo-se a António Guterres que se prepara para assumir novas funções na ONU.

Para o antigo delegado português nas Nações Unidas, o papel de António Guterres tem de ser em primeiro lugar “reanimar” o organismo nos seus princípios e “reformar” o seu funcionamento.

“As potências têm direito de veto, têm poder mas não têm o poder da palavra, é necessário que o poder da palavra vença a palavra dos poderes. E é isso que se espera da experiência e da capacidade de António Guterres, porque ele tem as qualidades suficientes para que a sua voz possa vencer as vozes dos poderes”, frisa Adriano Moreira.

O sociólogo destaca ainda a importância de criar na ONU um Conselho das Religiões, para que estas também possam ter uma palavra forte a dizer na resolução dos conflitos.

Uma ideia que motivou inclusivamente o envio de uma carta ao Papa Francisco.

“Ele é que tem que decidir se é ou não oportuno, porque ele é que está encarregue de dirigir a Igreja, mas penso que isso seria bem acolhido por muitas orientações religiosas que se querem entender”, salienta.

No diálogo com a Agência ECCLESIA, Adriano Moreira fez ainda referência a Fátima, que pela sua mensagem está intrinsecamente ligada à busca da paz.

Em 2017 vai ser assinalado o Centenário das Aparições de Fátima, um acontecimento que trará o Papa Francisco a Portugal, entre os dias 12 e 13 de maio.

“Não é o primeiro que faz isso mas a continuidade também aumenta a importância que a referência Fátima representa”, sustenta Adriano Moreira, em entrevista que vai estar em destaque na primeira edição do programa '70×7' de 2017, este domingo, pelas 13h30, na RTP2.

O Dia Mundial da Paz foi instituído pelo Papa Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia do novo ano.

A mensagem do Papa Francisco para 2017, intitulada ‘A não-violência: estilo de uma política para a paz’, merece amplo destaque no Semanário ECCLESIA, que inclui uma entrevista de fundo com o general Luís Valença Pinto, antigo chefe do Estado Maior General das Forças Armadas de Portugal.

JCP

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Agência ECCLESIA

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