II Concílio do Vaticano: O humanismo conciliar do «Premio Pessoa» de 1996

Os documentos nascidos no II Concílio do Vaticano (1962-65) tiveram uma influência notória nos jovens portugueses dos anos sessenta do século passado. O médico e «Prémio Pessoa» de 1996, João Lobo Antunes, foi um desses jovens que respirou a primavera conciliar.

Os documentos nascidos no II Concílio do Vaticano (1962-65) tiveram uma influência notória nos jovens portugueses dos anos sessenta do século passado. O médico e «Prémio Pessoa» de 1996, João Lobo Antunes, foi um desses jovens que respirou a primavera conciliar.

Nascido em 1994, João Lobo Antunes foi um brilhante médico que nos tempos de estudante liderou a Juventude Universitária Católica (JUC). Segundo ele, o ourives daquela geração de jovens foi D. António dos Reis Rodrigues. “Para a minha geração da JUC, D. António Reis Rodrigues, a quem nós chamávamos simplesmente, o Dr. Rodrigues, foi de uma influência decisiva” (João Lobo Antunes, In: «O CADC na vida da Igreja e da Sociedade Portuguesa», página 188).

Este médico, falecido em outubro passado, numa entrevista ao jornal «Expresso» de 17 de janeiro de 1998, afirmou de forma convicta: “Se eu pensar nas pessoas que me marcaram, que foram importantes na minha vida, o Dr. Reis Rodrigues foi indiscutivelmente uma delas. Embora hoje, por razões que não importam, eu não seja um homem de fé”. Apesar deste distanciamento em relação à fé, João Lobo Antunes referia com frequência: “Morro à sexta-feira, sou enterrado ao sábado e ressuscito ao domingo”.

Em entrevista ao programa «70X7», da RTP, na Páscoa de 2014, o «Prémio Pessoa» de 1996 confessou-se um “angustiado metafísico”, quando questionado sobre temas da vida, da morte e ressurreição. Manifestou “admiração e respeito” pela figura de Jesus Cristo e disse que “não podemos ignorar, como obrigação ética, a dimensão espiritual do sofrimento”.

A marca do II Concílio do Vaticano, convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI ficou tatuada na personalidade de João Lobo Antunes. Com a ajuda de D. António Reis Rodrigues, que moldou aquela geração de estudantes, João Lobo Antunes tornou-se um verdadeiro humanista. Para além do sentido evangelizador do antigo bispo auxiliar de Lisboa, “ele não esquecia a missão paralela de preparar uma geração de elites dirigentes, armando-os de uma estrutura em que os valores intelectuais e morais fundidos num aço que ele desejava bem temperado, embora mantendo nítida a distinção do que pertencia a César e o que era de Deus” (João Lobo Antunes, In: «O CADC na vida da Igreja e da Sociedade Portuguesa», página 188).

Apesar do distanciamento da fé, João Lobo Antunes referia: “Tenho um grande respeito pela Igreja, um grande respeito pela fé dos outros. Alguns amigos que possuem a fé acham que tenho mais do que eles… porque sinto uma grande intolerância pelas discrepâncias entre o exemplo de vida e o que se professa”. Águas conciliares…

LFS

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