Maratonista quer ligar Fátima ao Vaticano para apelar à ética
Lisboa, 07 set 2016 (Ecclesia) – O maratonista português Jorge Pina vai participar nos Jogos Paralímpicos 2016, que começam hoje no Rio de Janeiro, e alia o sonho de uma medalha ao desejo de correr até ao Vaticano e encontrar-se com o Papa Francisco.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Jorge Pina destacou a importância de haver “mais ética e humanidade” no desporto e na vida, hoje tantas vezes tomados por outros interesses, competitivos e financeiros, e a necessidade dos atletas serem exemplos, “mensageiros” desses valores.
O entrevistado que vai participar na maratona classe T12, no dia 18 de setembro às 13h00 locais (mais quatro horas em Lisboa), salientou que um atleta “tem em si uma responsabilidade se calhar maior do que os outros, como figura pública ou pessoa ligada ao desporto”.
É nesse contexto que Jorge Pina quer ir ao Vaticano, “saindo de Fátima e passando pelos Caminhos de Santiago e Lourdes”, e depois ao encontro do Papa, uma figura que várias vezes já destacou a importância do desporto ser um espaço para a transmissão de valores.
“Eu acho que o Papa Francisco está a fazer um bom trabalho, gostava de o conhecer, abraçar”, confidenciou o atleta paraolímpico, cuja história de vida mudou radicalmente quando ficou cego, em 2004.
Antigo campeão nacional de boxe, Jorge Pina estava a preparar-se para o título mundial quando uma lesão na retina o deixou quase completamente cego, com apenas 10 por cento de visão no olho direito.
“Acabei por cegar, e essa cegueira veio transformar-me no ser humano que sou hoje, porque eu costumo dizer que dantes é que era cego, agora é que vejo, vejo de uma forma diferente nítida e clara, e sei o que eu quero para mim e o que quero passar para os outros”, realçou o atleta paraolímpico.
Atualmente, Jorge Pina alia o seu treino em alta competição à promoção de vários projetos junto de jovens mais desfavorecidos.
“A minha corrida é uma corrida muito interior, sou uma pessoa que gosto de desafiar-me a mim, e o meu maior adversário sou eu mesmo. Tenho muita fé, aprendi a conhecer-me a mim e a querer entender o mundo e o universo e fui aprendendo com a vida, ela ensinou-me a não precisar de ver para acreditar”, apontou.
Além de uma associação, e de projetos como o ‘Music Boxe’, que combina junto dos mais novos o boxe, a dança e a música, Jorge Pina criou também a primeira Escola de Desporto Adaptado em Portugal, para pessoas com deficiência.
“Não criei a escola para criar campeões do mundo no desporto, e os meus projetos não são para criar campeões no desporto, mas que eles possam ser campeões do mundo na vida. O maior combate e a maior corrida é a corrida da vida, e às vezes nós esquecemo-nos dela e queremos só correr nas outras corridas e essa é a mais importante”, sublinha.
Os Jogos Paralímpicos 2016 no Rio de Janeiro começam hoje e terminam a 18 de setembro com o Brasil a acolher mais de quatro mil atletas, de 176 países.
Os 29 atletas portugueses competem em sete modalidades – judo; tiro; atletismo; natação; boccia; equitação e ciclismo – e têm como lema ‘Igualdade, inclusão e excelência desportiva’.
Às populações portuguesas, o atleta de 40 anos deixa o apelo para que “torçam por todos os atletas nacionais, que vão lá estar com certeza com a vontade de orgulhar e dar alegrias a Portugal e ao mundo”.
Jorge Pina participa pela terceira vez nos Jogos, depois de Pequim em 2008 e de Londres em 2012, e espera que seja desta que possa subir ao pódio “para agarrar uma medalha e trincá-la”.
O maratonista português foi uma das figuras em destaque no Semanário ECCLESIA dedicado ao desporto (nr.º 172), com um artigo intitulado “Ética no desporto”.
JCP/CB