Decisão partiu do Papa Clemente XI a 07 de novembro de 1716, pelo empenho português na «defesa e propagação da fé»
Lisboa, 06 jul 2016 (Ecclesia) – A Igreja Católica em Lisboa vai celebrar em novembro três séculos da sua designação como Patriarcado, um marco destacado pelo cardeal-patriarca, D. Manuel Clemente, numa intervenção na Academia Portuguesa de História.
Na sua exposição, publicada através da página online do Patriarcado de Lisboa, D. Manuel Clemente recorda que o título concedido pelo Papa Clemente XI, a 07 de novembro de 1716, tinha sobretudo em consideração o “zelo missionário dos reis portugueses” e do seu empenho na “defesa e propagação da fé ortodoxa”.
“Das razões que levaram o Papa a uma concessão tão inédita – o caso de Veneza não é idêntico, pois ‘herdou’ um título patriarcal já existente no Adriático – também sabemos o essencial: D. João V enviara uma armada a deter o avanço turco no Mediterrâneo, correspondendo vitoriosamente ao instante apelo de Clemente XI”, salientou o cardeal-patriarca.
Na base desta decisão esteve assim, o agradecimento a quem prestou “valiosos auxílios na defesa comum da república cristã contra seus funestos inimigos”, refere a bula ‘In supremo apostolatus solio’, que pode ser consultada no segundo volume da ‘História da Igreja em Portugal’, da autoria de Fortunato de Almeida.
Numa reflexão sobre “o enquadramento da decisão papal, no contexto da política europeia da altura”, D. Manuel Clemente destaca o facto de esta ter sido tomada numa época marcada por diversas dificuldades.
O pontificado de Clemente XI atravessava muitas questões, “quer internas, com a Cristandade desavinda, quer nas difíceis fronteiras com o Império Otomano, sempre ameaçador”.
Vários países católicos, como França, Espanha e Áustria, colocavam “os seus interesses” acima dos da Santa Sé, algo que ficou patente na resposta ao “apelo da República de Veneza face ao avanço turco”.
A Santa Sé “pôde contar apenas com o apoio dos príncipes católicos alemães, e dos reis da Polónia e de Portugal”, recorda o cardeal-patriarca.
A armada portuguesa partiu de Lisboa a 5 de julho de 1716 e a bula da criação do Patriarcado seria assinala cerca de quatro meses depois.
“Admito que fosse bem mais difícil de aceitar pelas potências ‘católicas’ noutro contexto político-eclesiástico, em que Portugal tivesse menos créditos e elas estivessem mais alinhadas com a Santa Sé”, apontou D. Manuel Clemente.
Para assinalar os 300 anos da criação do Patriarcado de Lisboa, o cardeal-patriarca vai promover, entre outras iniciativas, um Sínodo Diocesano em novembro.
A iniciativa tem estado a ser preparada no sentido de revitalizar o espirito missionário das comunidades cristãs.
JCP