Paulo Rocha, Agência ECCLESIA
A mensagem do Papa Francisco para o 50.º Dia Mundial das Comunicações Sociais tem uma palavra central: escuta. O texto relaciona comunicação e misericórdia, porque se insere na celebração do Ano Jubilar em curso, e tem uma secção nuclear para expressar o parecer do Papa para o setor dos media, sobre este tema da misericórdia. Sintetiza-se em dois parágrafos onde, em menos de dez linhas, Francisco se refere dez vezes à escuta.
Na primeira mensagem que Francisco escreveu para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2014, o Papa disse que os media podem ter um papel fundamental na promoção de uma “autêntica cultura do encontro”. E em que consiste essa cultura? A resposta surge a partir da parábola bíblica do Filho Pródigo e também pelo exemplo do próprio Papa. De facto, a atitude de ir ao encontro do outro, a decisão de o atender, a disponibilidade cuidar e dar carinho e tempo a todos, nomeadamente os mais frágeis, é uma marca deste pontificado. E é também o maior poder de comunicação do Papa Argentino.
Tive a oportunidade de estar na Praça de São Pedro quando o Papa Francisco percorre os corredores abertos no meio da multidão que o espera para as audiências gerais ou as grandes celebrações. Nestas, sobretudo, o aparente distanciamento em relação ao que acontece e impossibilidade de perceber tudo o que se ouve faz com que o ambiente entre as colunatas de Bernini nem sempre corresponda ao de um templo em céu aberto. Mas, quando o Papa se aproxima, acontece a comunicação, também a comunicação do mistério que se celebra e que é sinal e símbolo da transcendência. Para o testar, não chegam argumentos, é necessário participar, estar por lá pelo menos uma vez para comprovar a determinação de Francisco em se encontrar com todos e verificar a força comunicativa destes gestos, para além das palavras.
Na Praça de São Pedro ou em Lesbos, na sede das Nações Unidas ou nas Favelas do Rio de Janeiro, no Parlamento Europeu ou em Lampedusa, na Casa Branca ou na prisão mexicana do Estado de Chihuahua, Francisco torna relevante a sua presença pela promoção do encontro e interessante a sua comunicação pela permanente atitude de escuta.
Em termos meramente técnicos e burocráticos, a escuta emerge como metodologia necessária para o exercício de determinada função ou o cumprimento de uma qualquer obrigação. Por exemplo, no domínio do aconselhamento, da psicologia, da pedagogia e também na gestão de recursos humanos ou no desenvolvimento de estratégias comerciais. Agora, a escuta desafia metodologias de comunicação que, por tradição, assentavam em vias unidirecionais, expositivas. Diante do insucesso destas, procura-se a eficácia pela atenção ao outro, à rede. E, por isso, se afirma a necessidade da escuta.
A escuta proposta pelo Papa Francisco não é resultado de uma estratégia de comunicação, mas da autenticidade de vida, da transparência de um pontificado e da determinação em colocar todas as estruturas e mediações ao serviço de um único objetivo: a vida no seguimento de Cristo.
A exemplo do Bom Samaritano, a escuta proposta pelo Papa Francisco não se preocupa em “reconhecer o outro como um meu semelhante”, mas passa pela angústia constante de tudo fazer para ser “semelhante ao outro”. E esta diferença tem repercussões enormes. Também na definição de estratégias de comunicação! A primeira diz-se com três verbos: Comunicar é escutar.
Paulo Rocha