João Aguiar Campos, Secretariado Nacional das Comunicações Sociais
Celebramos, no próximo dia 3 de Abril, o Domingo da Divina Misericórdia, instituído em Maio do ano 2000 por João Paulo II.
Acontece esta celebração num momento em que é suposto que o Ano da Misericórdia, querido pelo Papa Francisco, esteja a marcar o ritmo da Igreja e dos seus filhos. Eis, pois, um bom momento para cada um de nós avaliar se está a ir além da palavra ou das palavras; se está, enfim, de coração dado aos pobres, com ternura e gestos concretos.
Que a misericórdia domine escritos e homilias, reflexões paroquias ou congressos, já é positivo e provocador. Mas será de menos, se ficarmos de fora da experiência do amor de Deus e da esperança que nos oferece; e, depois, não nos abrirmos a quantos connosco convivem ou nos procuram. Tocados pelo Amor, urge tocar quem está no nosso caminho — pondo de lado o distanciamento e apostando na proximidade.
É que, se a missão da Igreja é ser testemunha da misericórdia, esta tarefa cabe a cada baptizado nas suas circunstâncias; e a cada um cumpre pô-la em acção, aqui e agora: não fechando os olhos às fomes, sedes, injustiças, dores e marginalidades; estendo a mão para levantar e poupando o indicador da denúncia agreste; construindo paróquias que sejam ilhas de afecto e de perdão e não reservas de crentes impecáveis. Enfim, conquistando a virtuosa capacidade de transformar em próximo cada vizinho — mesmo os que nos surpreendem, porque vindos inesperadamente de longe e questionam a nossa cultura ou o nosso sossego.
Somos muito dados a emoções e sentimentos de compaixão; teremos, até, alguma capacidade para a lágrima de que a imagem tanto gosta… Mais difícil é a acção samaritana que decorre de um olhar atento e de uma disponibilidade total e arriscada. Comprometida.
Mas é, de facto, a misericórdia exercida que nos revela como verdadeiros filhos de Deus — como afirmativamente avisou o Papa Francisco na sua conversa com Andrea Tornielli ; salientando que o próprio Senhor Jesus "colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé".
Se não for este o caminho, viajamos em sentido contrário ao coração de Deus. E teremos perdido um ano — um Ano Santo.
João Aguiar Campos