Mesmo na Igreja Católica «a liderança» poderia muitas vezes seguir «um caminho distinto», admite D. José Ornelas
Setúbal, 07 mar 2016 (Ecclesia) – O bispo de Setúbal destacou na sua mais recente reflexão quaresmal o significado do lava-pés de Cristo, que desafia o modelo social atual, em que “os grandes estão no topo e dominam os que estão em baixo”.
“O gesto de Jesus inverte a pirâmide da importância e da grandeza”, frisou D. José Ornelas na sua intervenção, publicada hoje pelo jornal “Notícias de Setúbal”.
O prelado deu como exemplo a família, sublinhando que é “o serviço – e não o poder, o domínio e a prepotência – que forma pessoas, famílias, comunidades e povos solidários e prósperos”.
“O que fazem os pais em casa? São os primeiros a levantar-se, para preparar o pequeno-almoço e as coisas para os filhos… são os últimos a ir para a cama, para deixar tudo pronto para o dia seguinte. São escravos? Não! Amam!… e o seu amor transforma-se em serviço concreto e diário para o bem de todos”, salientou.
D. José Ornelas apontou a importância de uma comunidade cristã mais participativa e envolvida na sociedade, à semelhança do que Jesus fazia com os seus discípulos.
“A comunidade de Jesus não é um supermercado em que uns produzem religião, outros consomem, ou uma empresa de serviços religiosos gerida por alguns, onde os outros vão fornecer-se. Todos oferecem os seus serviços, de acordo com os dons que receberam e, por isso, todos são também beneficiários”, lembrou o prelado.
“Os problemas da minha família, da minha comunidade, da diocese, da Igreja, do mundo, da miséria, da fome, da droga da corrupção, são assunto meu. Não posso fingir que não conheço, que não sinto”, acrescentou.
Sobre a Igreja Católica, o bispo de Setúbal reconheceu que muitas vezes “a liderança (…) tem de seguir um caminho distinto”.
“Não se pode pactuar com situações em que comunidades inteiras e sobretudo os mais fracos, sejam feridos, lesados, defraudados por aqueles a quem foi confiado e recomendado o serviço da misericórdia”, sustentou.
JCP