Octávio Carmo, Agência Ecclesia
“A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade. Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana”
(Bento XVI, encíclica ‘Spe Salvi’)
Grande parte do debate em torno da eutanásia rapidamente se encaminhou para o nível da suspeição e para a confusão, evitando desde logo um mais do que necessário esclarecimento de conceitos. Há opiniões pensadas e fundamentadas que precisam de ganhar mais espaço mediático, para lá da preocupação dos likes e soundbites.
Em primeiro lugar, porque estamos a falar de temas centrais para a definição do que é a humanidade, como a dor, o sofrimento e a morte. Sabe-se que a dor nem sempre é negativa, pode ser um prelúdio de algo melhor (como tantas vezes aconteceu na arte) ou um alerta, mas também é verdade que às vezes se torna insuportável e pode levar um ponto de desespero que é difícil de superar.
O pensamento católico não propõe um sofrimento sem controlo nem o encarniçamento terapêutico. São dois bons conceitos para começar o debate – eu bem sei que para muitos esta não é uma questão religiosa, a não ser que seja para criar cartazes ou campanhas ‘humorísticas’ nas redes sociais.
Acompanhar e ajudar são conceitos centrais na nossa tradição religiosa, em relação aos doentes – matéria tão séria que até ficou plasmada numa das obras de misericórdia. Seria um erro reduzir a discussão a questões técnicas e jurídicas, apesar da sua notável importância, esquecendo dimensões sociais e espirituais que estão intimamente ligadas à vida e à busca de sentido de cada pessoa. Até porque a tentação de pura e simplesmente eliminar quem sofre, que está 'a mais', acompanha uma boa parte da história…
Octávio Carmo