Francisco pede «profissionalismo» aos jornalismos para evitar manipulação de notícias
Lisboa, 30 nov 2015 (Ecclesia) – O Papa admitiu hoje que o Vaticano errou ao confiar no padre Vallejo Balda e em Francesca Chaouqui, que no início do mês foram detidos por furto e divulgação de notícias e documentos confidenciais, no chamado ‘vatileaks2’.
“Julgo que se cometeu um erro”, disse, no voo de regresso a Roma, desde a República Centro-Africana, ao ser questionado pelos jornalistas sobre os cargos atribuídos aos dois antigos colaboradores da Santa Sé na Comissão relativa ao estudo e orientação sobre a organização das estruturas económico-administrativas da Santa Sé (COSEA), instituída pelo Papa em julho de 2013 e posteriormente dissolvida, após cumprir o seu mandato.
“Os juízes dirão a verdade sobre as suas intenções, como o fizeram”, acrescentou Francisco, a respeito do julgamento que foi hoje adiado para 7 de dezembro.
O Papa referiu, no entanto, que todo este caso não foi para si uma surpresa.
“Não me tirou o sono, exatamente porque deram a conhecer o trabalho que se começou a fazer com a Comissão de Cardeais – o C9 – para encontrar casos de corrupção e coisas que não estão bem”, indicou.
Francisco recordou que as denúncias sobre a “sujidade” na Igreja remontam ao fim do pontificado de João Paulo II, pela boca do então cardeal Joseph Ratzinger, que viria a ser eleito Papa “por causa desta liberdade de dizer as coisas”.
“Desde esse tempo, anda no ar a ideia de que há corrupção no Vaticano. Há corrupção”, acrescentou.
Em relação ao julgamento em curso, o Papa admitiu que gostaria que acabasse antes do início do Jubileu da Misericórdia (8 de dezembro), mas tal não deverá ser possível, pela necessidade de garantir a “liberdade de defesa” aos arguidos, tendo em cima da mesa “acusações concretas”.
“A corrupção vem de longe”, lamentou.
Francisco recusou a ideia de que a acusação a dois jornalistas no âmbito deste ‘vatileaks’ seja um ataque da Santa Sé à liberdade de imprensa.
“O fundamental é ser profissional, verdadeiramente, que as notícias não sejam manipuladas. Isto é importante, porque a denuncia das injustiças, da corrupção, é um belo trabalho”, disse.
O Papa pediu aos jornalistas que evitem a “desinformação”, a “calúnia” e a “difamação”, pedindo desculpa se for caso disso.
O pontífice argentino mostrou vontade de continuar a “limpar” a casa, com a ajuda dos cardeais e das comissões criadas, gracejando com a situação ao dizer que “graças a Deus que não existe a Lucrécia Bórgia [(1480-1519), filha ilegítima de Rodrigo Bórgia, o Papa Alexandre VI].
Ainda em relação ao futuro, o Papa admitiu que as viagens “deixam marca”, por causa da sua idade (vai completar 79 anos em dezembro), mas confirmou que prometeu ir à Arménia, embora não saiba se isso é possível, e que vai visitar o México em 2016, com passagens pelo Santuário de Guadalupe, Chiapas, Morélia e Cidade Juarez (junto à fronteira com os EUA).
OC