França: Emigrante português diz que nação está em estado de «choque» e de «incerteza»

«Ninguém está protegido», realça José Coutinho da Silva sobre os atentados de Paris

Orleáns, França, 14 nov 2015 (Ecclesia) – O português José Coutinho da Silva, em França há mais de 40 anos, diz que o país está em estado de choque com um tipo de terrorismo completamente incontrolável e imprevisível.

“Até aqui sabíamos que eram alvos determinados, era a polícia, as instituições, agora ninguém está protegido”, aponta o emigrante, que acompanhou horrorizado os desenvolvimentos dos atentados que abalaram esta sexta-feira a capital francesa, provocando pelo menos 128 mortos e 250 feridos.

Para além do “choque das imagens”, dadas por “todos os canais televisivos que interromperam a sua emissão”, foi também a “incerteza no número de mortos”, frisa José Coutinho da Silva, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Atualmente a coordenar a equipa pastoral da Paróquia de São João Bosco, na Diocese de Orleáns, a cerca de 100 quilómetros de Paris, com mais sete leigos e um sacerdote, José Coutinho da Silva contacta todos os dias com a comunidade magrebina e muçulmana, com forte presença na região.

De acordo com o emigrante português, “as pessoas estão com medo” pois sabem que depois destes atentados “vão começar todos a ser designados” como terroristas e a serem “medidos pela mesma medida”.

“Diante do sofrimento do país inteiro há também o sofrimento e a apreensão dos muçulmanos que não têm absolutamente nada a ver com estes loucos selvagens”, salienta aquele responsável.

José Coutinho da Silva teme também que a revolta que os jovens magrebinos sentem em relação ao país faça com que eles possam ter “gestos de solidariedade” para com a atuação do Estado Islâmico, que já reivindicou os atentados.

“Para eles, é a França que marginaliza os magrebinos, a França que não dá trabalho aos magrebinos, uma França que não os quer”, explica o agente pastoral, segundo o qual a França atualmente é uma nação sempre em tensão, quando isto não faz qualquer sentido.

“Os magrebinos são assimilados como muçulmanos, como árabes, e tudo isso vai cavando este fosso entre setores da população que, tendo raízes diferentes, são franceses. Porque a França é isto mesmo, um país que não existiria sem esta interculturalidade”, frisa José Coutinho da Silva.

De acordo com aquele responsável, ainda recentemente estudos apontavam que “mais de 25 por cento da população francesa, de segunda e terceira geração, era descendentes de emigrantes”.

Nesse sentido, o único caminho a seguir é “manter estes laços de solidariedade e amizade e boa vizinhança” para com uma população magrebina que mais uma vez “se vai sentir marginalizada”.

O emigrante português destaca ainda os gestos especiais de entreajuda e apoio que foram visíveis logo a seguir aos atentados terroristas, especialmente em frente aos hospitais, com as pessoas a querem participar na ajuda aos mais atingidos pela tragédia.

“Apareceram tantas pessoas para doar sangue que os hospitais tiveram de recusar mais dádivas”, conta José Coutinho da Silva.

PR/JCP

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