Papa diz que roubo de documentos é um «crime», mas sublinha que material publicado era já conhecido e levou a medidas concretas
Cidade do Vaticano, 08 nov 2015 (Ecclesia) – O Papa reagiu hoje às recentes polémicas sobre as atividades financeiras da Santa Sé, após a publicação de dois livros com documentos confidenciais do Vaticano, e disse que a “reforma” em curso vai continuar.
“Quero assegurar-vos que este triste facto não me desvia, certamente, do trabalho de reforma que estamos a levar por diante, com os meus colaboradores e com o apoio de todos vós”, disse, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a recitação do ângelus.
Numa intervenção que foi acolhida com muitos aplausos pelos peregrinos, Francisco começou por reconhecer que muitas pessoas ficaram “perturbadas” com as notícias que circulam nos últimos dias “a propósito de documentos confidenciais da Santa Sé, que foram subtraídos e publicados”.
“Por isso, gostaria de dizer-vos, antes de mais, que roubar estes documentos é um crime, um ato deplorável que não ajuda”, lamentou.
Na segunda-feira, o Vaticano anunciou a detenção de monsenhor Lucio Angel Vallejo Balda e de Francesca Chaouqui, respetivamente secretário e membro da Comissão relativa ao estudo e orientação sobre a organização das estruturas económico-administrativas da Santa Sé (COSEA), instituída pelo Papa em julho de 2013 e posteriormente dissolvida, após cumprir o seu mandato.
O porta-voz do Vaticano confirmou depois que os dados revelados nos livros ‘Via Crucis’, de Gianluigi Nuzzi, e ‘Avarizia’, de Emiliano Fittipaldi, publicados na Itália, têm a sua origem na COSEA.
O Papa explicou hoje que foi ele próprio a “pedir que se fizesse este estudo” sobre a situação financeira e patrimonial das instituições da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano.
“Eu e os meus colaboradores conhecíamos bem estes documentos e foram tomadas medidas, que começaram a dar frutos, alguns dos quais visíveis”, assinalou Francisco.
A intervenção pediu a “oração” e o “apoio” de todos os católicos para as mudanças que estão a ser implementadas, que implicaram, entre outras medidas, auditorias externas às contas do Vaticano e a criação de uma Secretaria para a Economia na Santa Sé, para além da implementação de medidas de transparência financeira no Instituto para as Obras de Religião (IOR, conhecido popularmente como Banco do Vaticano).
“Agradeço-vos e peço-vos que continuem a rezar pelo Papa e pela Igreja, sem vos deixardes pertubar, mas seguindo em frente com confiança e esperança”, concluiu Francisco.
Os livros em causa deixam várias das críticas, em particular no que diz respeito à propriedade dos bens da Santa Sé e o Óbolo de São Pedro, que recolhe donativos dos católicos de todo o mundo para o Papa.
Outra dos alvos, a Fundação ‘Bambino Gesù’, ligada ao hospital pediátrico da Santa Sé, operou esta semana uma mudança de fundo, com a primeira reunião do seu novo Conselho Diretivo, nomeado diretamente pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.
Este sábado, D. Manuel Clemente disse aos jornalistas em Lisboa que o importante, neste momento, é "estar ao lado do Papa Francisco", para que eventuais irregularidades "aconteçam cada vez menos".
"Apoiei, apoio e apoiarei o Papa Francisco", sublinhou, a respeito das reformas que estão a ser promovidas.
OC