Direitos Humanos: Religiosa síria denuncia situação crítica em Alepo

Bispo que sobreviveu a ataque bombista na Nigéria e padre que mediou conflito na República Centro-Africana participaram em evento promovido pela Fundação AIS

Lisboa, 13 out 2015 (Ecclesia) – A irmã Annie Demerjian, a residir em Alepo, Síria, denunciou hoje em Lisboa a situação crítica em que vive a população desta cidade, por causa da crise que afeta o país.

“O que é que acontece quando não há emprego, porque os locais de trabalho? O que é que acontece no inverno quando a temperatura desce abaixo de zero e não há nenhum aquecimento nem gás para cozinhar?”, questionou a religiosa da Congregação das Irmãs de Jesus e Maria, durante a sessão de apresentação do relatório ‘Perseguidos e Esquecidos?’ sobre a perseguição aos cristãos.

A publicação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) denuncia a “limpeza étnico-religiosa” contra os cristãos no Médio Oriente e regiões de África, alimentada pela “ameaça” de genocídio feita por grupos islâmicos.

Segundo a irmã Annie Demerjian, a atual crise na Síria, em especial na cidade de Alepo, capital económica do país, com o avanço do autoproclamado Estado Islâmico e os conflitos entre rebeldes e o Governo, tem provocado o “caos” e um “estado permanente de medo”.

A religiosa falou de um povo “cansado” da guerra e de cristãos que resistem e ficam “mais fortes” com a ajuda do resto do mundo.

A apresentação mostrou vários edifícios e estruturas atingidas por bombas, que condicionam o acesso à água.

A sessão contou também com a presença de D. George Jonathan Dodo, bispo de Zaria, na Nigéria, que sobreviveu a um ataque terroristas contra a catedral diocesana, por extremistas islâmicos.

“O objetivo deste ataque era matar-nos a todos dentro da Catedral”, mas a bomba rebentou num pilar do edifício e não no seu interior, recordou.

O prelado contou a história da sua vida de “resistência” desde a ‘sentença de morte’ aos seis meses de vida, em dezembro de 1956, por causa de uma doença, o que se repetiu quando era estudante de Teologia.

“Deus salvou-me a vida para poder falar dele a todos”, disse.

Já o padre Aurelio Gazzera, religioso dos carmelitas descalços na República Centro-Africana, abordou o esforço de reconciliação no país depois da crise provocada pela coligação rebelde dos ‘Seleka’, que começou a atuar em 2012, com uma maioria de muçulmanos e de mercenários do Chade e do Sudão

A chegada deste grupo ao poder levou a “seis meses de governo de ladrões, com ataques, assassinatos, pilhagens”.

A reação dos “antibalaka”, que combateram os rebeldes, de forma violenta, atingiu também os muçulmanos.

Os combates chegaram à paróquia, que acolheu entre 4 a 6 mil refugiados, de todas as religiões, e levou, além do acolhimento, a um trabalho “muito perigoso” de mediação

O missionário carmelita em Bozoum, no noroeste da República Centro-Africana, admite que “as feridas ainda são muito profundas”.

Segundo o relatório da AIS, o Cristianismo “estará em vias de extinção no coração de muitas das regiões bíblicas no espaço de uma geração, senão antes”.

O documento, enviado à Agência ECCLESIA, aborda o período entre 2013 e 2015, identificando situações de perseguição religiosa “extrema” na Arábia Saudita, China, Coreia do Norte, Eritreia, Iraque, Nigéria, Paquistão, Sudão, Síria e Vietname.

Catarina Martins Bettencourt, que dirige o secretariado português da Fundação AIS, falou no “êxodo mais significativo” de cristãos, que estão a “desaparecer rapidamente” regiões inteiras do Médio Oriente e zonas de África.

OC

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