Paulo Rocha, Agência Ecclesia
A família Silva participa ativamente na paróquia. Já passou por ambientes urbanos e rurais e em todos manifesta o mesmo empenho nas atividades da comunidade, sejam sociais, litúrgicas e administrativas.
O pai, pelo perfil profissional, pertence ao Conselho Económico Paroquial; o gosto da mãe faz com que reserve algum tempo da semana para a animação litúrgica; o mais novo, o filho, começou nos escuteiros, e dedica já tardes inteiras do sábado para as atividades pedagógicas, quando não são fins-de-semana em acampamentos; as outras duas filhas, mais velhas, terminam os anos de catequese e começam as dinâmicas dos grupos de jovens, que não se circunscrevem a atividades à quinta ou sexta-feira à noite, mas motivam muitos encontros com os jovens que participam, há alguns anos, em caminhadas de educação e aprofundamento da fé.
Uma ocasião, após quatro semanas de participação na comunidade e ajustadas todas as rotinas, a família Silva tentou fazer um plano semanal das atividades que reunisse os vários compromissos: os tempos a azul mostravam a ocupação do pai, a rosa os da mãe e outras cores para cada um dos filhos. Resultado, uns andavam pela paróquia um dia, outros noutro, umas vezes durante o dia, outras durante a noite. Os desencontros eram tantos que não apenas determinavam a permanência da família na comunidade em ocasiões diferentes, como também impediam o encontro familiar em casa.
Chegado um tempo de férias, o cenário aqui descrito mereceu conversa animada da família Silva. E surgiu a questão: a comunidade crente, a paróquia, é causa de consolidação da família ou, sem dar por isso, está a contribuir para desagregação familiar? Não será possível encontrar espaços e tempos de realização da experiência crente para todos os membros da família? E recordaram: quando os filhos eram ainda bebés, até a participação familiar na Eucaristia teve de ser “por partes” para que o choro não incomodasse o ambiente…
Esta história pode não acontecer totalmente assim com a família Silva (designada com este nome familiar apenas por ser o mais popular apelido em Portugal). Mas há muitos capítulos desta história que fazem o quotidiano da família em Igreja.
No congresso que antecedeu o Encontro Mundial das Famílias (Filadélfia, 22 a 27 de setembro de 2015), esta circunstância foi analisada por famílias de todo o mundo, para rapidamente afirmar a urgência de planear dinâmicas pastorais que fomentem a estabilidade familiar.
Nas Jornadas Nacionais de Comunicação Social, sobre o tema “Comunicação e Família”, D. Manuel Clemente valorizou esta determinação e colocou a necessária reconfiguração das comunidades crentes em torno da família. Disse o cardeal-patriarca de Lisboa: “Trata-se de levar por diante o propósito repetido de fazer de cada comunidade uma autêntica ‘família de famílias’, fazendo da família o critério de toda a reconfiguração comunitária da vida eclesial e ultrapassando quer o individualismo quer a massificação mais vulgares”.
O tema vai cruzar-se na sala do Sínodo, que decorre no Vaticano nas três semanas de Outubro. Neste como em todos os temas, a história de cada família, tanto dos Silva como de outro qualquer apelido, tem de estar presente quando for necessário determinar normas para a realização da experiência familiar em qualquer parte do mundo. Porque a família é sempre uma história muito concreta. As normas, absolutamente necessárias e de orientação, são abstratas.