Francisco Sarsfield Cabral deixa alerta em jornada de arquitetura sobre «uma Igreja pobre e servidora»
Lisboa, 17 out 2015 (Ecclesia) – O jornalista Francisco Sarsfield Cabral disse hoje em Lisboa que os pobres perderam “influência política”, pelo que a luta pela erradicação de miséria exige uma conversão da opinião pública.
O especialista falava no painel inicial da jornada de Liturgia, Arte e Arquitetura, promovida pela Ordem dos Arquitetos, sobre o tema ‘Arquitetura para uma Igreja pobre e servidora’.
Numa intervenção sobre ‘Tipologias da pobreza’, Sarsfield Cabral sustentou que só haverá políticas eficazes de erradicação da pobreza quando “a maioria dos eleitores, por razões éticas, achar intolerável esta situação”.
Apesar dos “grandes avanços na redução da miséria e da fome”, o problema das desigualdades está na ordem do dia, juntamente com o envelhecimento da população.
A iniciativa que decorre no auditório da Ordem dos Arquitetos, começou com a apresentação do documentário ‘O meu bairro’, de Inês e Daniela Leitão, que mostra o trabalho dos Missionários da Consolata no Bairro do Zambujal.
O padre José Manuel Pereira de Almeida, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social, apresentou uma intervenção ‘Cuidar do outro’, partindo do “ícone da Misericórdia” criado para a Comunidade ecuménica de Taizé (França), que conta a parábola do Bom Samaritano.
“Só o amor transfigura a realidade”, observou.
A organização revelou que a iniciativa recebeu várias mensagens de apoio de bispos católicos, incluindo a de D. Pio Alves, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
João Menezes, da Câmara Municipal de Lisboa, falou das ‘Carências da cidade atual’, convidando à criação de uma “cidade de bairros, de comunidades intervenientes e de desenvolvimento local”.
“Precisamos de pôr as pessoas na rua”, defendeu, falando do seu recente trabalho na Mouraria.
O programa da jornada prevê ainda apresentações e debates com diversos intervenientes como frei Bento Domingues, que vai falar sobre uma ‘Igreja servidora em novo contexto histórico e social’.
A iniciativa é acompanhada pela exposição bibliográfica intitulada ‘12 arquiteturas para uma Igreja pobre e servidora’, patente na galeria da Ordem dos Arquitetos em Lisboa até 23 de outubro.
Segundo o arquiteto João Alves da Cunha, da organização do evento, são edifícios “selecionados que de certa forma podem mostrar o que é este conceito do serviço e da pobreza na arquitetura da Igreja”.
Entre as obras apresentadas contam-se a igreja do Seminário Dominicano do Olival (Aldeia, arq. Diogo Lino Pimentel, 1965), o oratório de Nossa Senhora de Lourdes (Navarons de Spilimbergo, Itália, arq. Glauco Gresleri, 1968), a Abadia de São Bento (Vaals, Holanda, arq. Van der Laan, 1986), a capela-salão de São Miguel (Marinhais, Salvaterra de Magos, arqs. Germano Venade e Pedro Vieira de Almeida, 1975), Igreja de Neuville, Bélgica (arq. Jean Cosse, 1971) e o Centro Dominicano (Munique, Alemanha, arq. Andreas Meck, 2008).
“Em tempo de prática de arquitetura-espetáculo, é bom que as novas igrejas, pelo contrário, assumam outra discreta imagem de humilde serviço e acolhimento”, explica a Ordem dos Arquitetos.
OC