Fátima: A ligação afetuosa dos emigrantes ao santuário mariano

Testemunhos que realçam um elemento «identificador da pertença»

Lisboa, 13 ago 2015 (Ecclesia) – Milhares de emigrantes portugueses aproveitam as férias para regressar a Portugal onde visitam familiares, amigos e dedicam um tempo ao Santuário de Fátima que os acolhe especialmente na peregrinação internacional de agosto.

“É fundamental por um lado a perceção que continuamos a ter muitos compatriotas nossos que tiveram de optar pela migração como forma de conseguir os melhores meios de vida e essa solidariedade para com eles é importante. O Santuário tem um dever de gratidão para com os nossos migrantes porque são os primeiros difusores da mensagem de Fátima pelo mundo”, explica o reitor do Santuário de Fátima, o padre Carlos Cabecinhas.

A peregrinação internacional de agosto tem este ano como tema “Formamos um só corpo” e coincidiu como habitualmente com a 43.ª Semana Nacional das Migrações, sendo dedicada em especial a todos os migrantes e refugiados.

“Estes dias são sempre vividos intensamente porque por um lado são muitos os peregrinos que vêm a pé que implica um sacrifício extra e têm na chegada ao santuário a grande meta desse esforço e são muitos os que se deslocam pelos seus meios e procuram participar no conjunto das celebrações”, acrescentou o reitor à Agência ECCLESIA, destacando a “confiança e fé” desta massa humana.

O padre Carlos Cabecinhas recorda também que Portugal recebe migrantes e é “convidado a desenvolver a hospitalidade para com quem chega” e acolher bem.

Canadá, França, Luxemburgo e Suíça são exemplos de países onde os portugueses continuam a chegar todos os anos mas nestas comunidades continuam a fé que receberam e a passar aos seus filhos a educação católica.

“Fátima representa a minha fé, representa Portugal e saudades. Representa os pedidos que fazemos a Nossa Senhora para nos dar paz, amor e carinho”, revela Maria Janicas, emigrante no Canadá que cumpre este ritual há mais de 40 anos e chegou acompanhada dos seus filhos e netos.

De França tinha chegado Sérgio Ribeiro, que realça a ligação “muito forte” ao seu país natal e que o faz ir a Fátima todos os anos.

“Depois fico muito melhor e quando parto faço a viagem muito melhor. Vir aqui dá vontade de viver e ir mais longe na vida”, observou o emigrante natural de Amarante, radicado em França há mais de 15 anos.

Stephanie Vieira é luso descendente, veio ao santuário mariano com o pai e conta que no Canadá cresceu com a sua “cultura”, a cultura portuguesa: “Gostamos de vir aqui, é importante deixarmos as nossas orações, darmos graças. O meu filho pequeno está com alguns problemas e então vim aqui para pedir saúde e paz.”, confidenciou.

Segundo Maria Beatriz Rocha-Trindade, pioneira na introdução do estudo da Sociologia das Migrações em Portugal, “Fátima é um elemento identificador da pertença, há uma geografia sentimental que é a terra de origem. Muitas vezes a pessoa sente-se mais identificada, ligada, em relação à sua micro pátria, à sua aldeia”.

Para a especialista, a Igreja teve “inteligência e generosidade” em criar um espaço de identificação que proporciona uma “recomposição social da sociedade religiosa portuguesa”.

“É um espaço temporal de grande identificação e de reforço desse sentimento de pertença”, frisou a professora catedrática da Universidade Aberta.

JCP/CB

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