Paraguai: Papa elogia experiência histórica das «reduções»

Encontro com organizações da sociedade civil reafirmou defesa de novo modelo de desenvolvimento

Assunção, 11 jul 2015 (Ecclesia) – O Papa elogiou hoje no Paraguai as “reduções”, promovidas neste território por missionários católicos, em particular jesuítas, entre os séculos XVI a XVIII, considerando-as “uma das experiências de evangelização e organização social mais interessantes da história”.

“Nelas, o Evangelho foi alma e vida de comunidades onde não havia fome, desemprego, analfabetismo, nem opressão”, declarou, perante milhares de representantes de organizações da sociedade civil reunidos no pavilhão ‘León Condou’, em Assunção.

As reduções, aldeamentos das populações indígenas da América, foram criadas para defender estas populações dos ataques esclavagistas, para a sua promoção social e a evangelização.

“Esta experiência histórica ensina-nos que uma sociedade mais humana também é possível hoje, vocês viveram-na aqui, nas suas raízes: quando há amor ao homem e vontade de o servir, é possível criar as condições para que todos tenham acesso aos bens necessários, sem que ninguém seja descartado”, observou Francisco.

O encontro contou com a presença de professores, artistas, empresários, sindicalistas, desportistas, jornalistas, agricultores, indígenas e membros de várias associações femininas.

“Um povo que não mantém vivas as suas preocupações, um povo que vive na inércia duma aceitação passiva é um povo morto”, referiu o pontífice argentino, que se congratulou com a presença destes representantes.

Francisco apelou à construção de uma política centrada no "bem comum", que pense "com" o povo e não "pelo povo".

"As ideologias têm uma relação incompleta, doente, má com o povo. As ideologias não servem o povo. Olhem para o século passado, como terminaram as ideologias? Em ditaduras, sempre”, referiu. 

O discurso denunciou as “iniquidades” de um mundo em que as pessoas são “descartáveis”, de um “modelo económico idólatra” do dinheiro, defendendo que a criação da riqueza tem de estar ligada “ao bem comum, e não de poucos”.

“Nisto, devemos ser muito claros”, insistiu.

Neste sentido, o Papa dirigiu-se aos empresários e a todos cuja vocação é contribuir para o desenvolvimento económico, recordando-lhes a “obrigação de velar para que este tenha sempre rosto humano”.

"Primeiro a pátria, depois os meus negócios", recomendou.

A intervenção falou da corrupção como “gangrena” do povo e denunciou a “chantagem” que mina a vida da sociedade.

“A adoração do antigo bezerro de ouro encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia sem rosto”, alertou, citando a sua exortação apostólica ‘A alegria do Evangelho’.

Num discurso com alguns improvisos, o pontífice argentino confessou “alergia” a ouvir discursos “grandiloquentes” sobre estes temas de pessoas que se conhecem e das quais se pensa: “Que mentiroso que és”.

“Os empresários, os políticos, os economistas devem deixar-se interpelar por isso”, acrescentou.

Francisco pediu que Deus seja “reconhecido” como garantia da “dignidade” humana e como base da fraternidade e do diálogo na sociedade.

“Todos somos irmãos, filhos de um mesmo Pai celestial, e cada um, com a sua cultura, a sua língua, as suas tradições, tem muito para dar à comunidade”, explicou.

O Papa recordou o “clamor dos pobres” e sublinhou que estes “têm muito para ensinar em humanidade, bondade, sacrifício” e, para os cristãos, representam “o rosto e carne de Cristo”.

“Amai a vossa Pátria, os vossos concidadãos e sobretudo amai os mais pobres. Deste modo sereis um testemunho perante o mundo de que é possível outro modelo de desenvolvimento”, pediu aos presentes.

O encontro começou com uma apresentação de um bailado dedicado a Francisco, acompanhado por uma orquestra que utiliza instrumentos feitos de lixo reciclado.

O Papa elogiou a “cultura popular”, ligada também aos povos indígenas, na América Latina, frisando que não há culturas de “segunda, terceira ou quarta categoria”.

OC

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