Bolívia: Papa mostrou fé comprometida com os últimos e imune a ideologias políticas

Francisco realizou visita de menos de 48 horas centrada em problemas sociais a nível global

Santa Cruz, Bolívia, 10 jul 2015 (Ecclesia) – O Papa encerrou hoje uma visita de menos de 48 horas à Bolívia, segunda etapa da sua viagem à América Latina, na qual apresentou uma fé comprometida com os “últimos” e contrária a manipulações ideológicas.

Francisco chegou esta quarta-feira à capital La Paz, onde falou da fé como “fermento de um mundo melhor”, apelando à colaboração “na construção duma sociedade mais justa e solidária”.

Já em Santa Cruz de la Sierra, onde passou a maior parte da estadia para fugir à altitude, disse aos religiosos que os católicos não são “testemunhas de uma ideologia, uma receita, uma forma de fazer teologia”, mas do “amor” de Jesus.

Esperança e dignidade foram palavras repetidas nas várias intervenções, com Francisco a alertar para uma conceção errónea de progresso e crescimento, que se centra apenas na dimensão “material”.

“Se a política se deixa dominar pela especulação financeira, ou a economia se deixa reger apenas pelo paradigma tecnocrático e utilitarista da produção máxima, não poderão sequer compreender – e muito menos resolver – os grandes problemas que afetam a humanidade”, advertiu.

Francisco falou numa lógica que transforma tudo em “objeto de troca”, num bem “negociável”, fruto do desespero e da cultura do descartável.

Além de inaugurar o Congresso Eucarístico Nacional da Bolívia, o Papa esteve em Santa Cruz de la Sierra para encerrar o II Congresso Mundial dos Movimentos Populares, onde proferiu o discurso mais longo da viagem, até ao momento.

O pontífice argentino propôs uma “mudança positiva” no panorama mundial, que coloque a economia ao serviço das pessoas, defenda o meio ambiente e supere a “tristeza individualista”.

Por isso, pediu que “o clamor dos excluídos” seja escutado na América Latina e em toda a terra, deixando de lado um sistema que se tornou global e “e impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza”

Francisco apelou ao respeito pelos “direitos sagrados” de “terra, teto e trabalho” e repetiu o pedido de perdão pronunciado por João Paulo II pelos crimes contra as populações indígenas e elogiou, por outro lado, o papel desempenhado pela Igreja Católica no desenvolvimento da América Latina e na defesa das suas populações, ao longo da história.

Evo Morales, presidente da Bolívia, foi acusado de tentar instrumentalizar politicamente a viagem com alguns dos seus gestos e discursos, mas para o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, o Papa “não se deixou assustar, isto é, fez todos os seus discursos com grande liberdade e determinação”.

OC

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