«Laudato Si»: Bispo de Beja destaca necessidade de «educação e espiritualidade ecológicas»

D. António Vitalino reflete sobre os três últimos capítulos da encíclica sobre o ambiente

Beja, 07 jul 2015 (Ecclesia) – O bispo de Beja comentou os três últimos capítulos da encíclica ‘Laudato Si’, do Papa Francisco, destacando apelos a uma ‘ecologia integral’ e “elementos e perspetivas” para uma ‘educação e espiritualidade ecológicas’.

“Hoje em dia perguntamos mais sobre a utilidade das coisas. Para que servem? Mas este modo de conhecimento não é o mais característico da nossa inteligência”, observa D. António Vitalino que adianta que os seres e os acontecimentos “têm a sua beleza e existência própria”.

Na 'Nota Semanal', o bispo de Beja sustenta que os seres e os acontecimentos devem ser admirados, conhecidos e apreciados naquilo que são e “não por causa da sua utilidade em relação ao próprio bem-estar”.

Para D. António Vitalino, a educação filosófica, estética e espiritual “tocam o âmago do ser humano”, lamentando que "infelizmente” o cultivo destas atitudes foi “banida dos sistemas educativos”.

“Deixamos tudo isso às opções de alguns. Os resultados catastróficos estão à vista”, analisa o bispo de Beja.

Por isso, o prelado recorda que o Evangelho “chama muitas vezes” a atenção para estas relações – ‘Olhai os lírios do campo, as aves do céu’ – bem como Jesus em diversos apelos, por exemplo a “gratuidade do amor de uma mãe; o perdão e o amor aos inimigos” e as bem-aventuranças.

“Esta encíclica põe a descoberto muitos dos erros do nosso desenvolvimento desumano. Sem apresentar soluções, pois não é essa a missão da Igreja, no entanto alerta os nossos políticos e empresários a não pensarem apenas no progresso económico e financeiro”, desenvolve D. António Vitalino.

Ainda sobre ecologia integral, mas nos capítulos VI e V, o bispo de Beja recorda que o Papa Francisco mostra a importância das relações para a realização “plena e harmónica” do ser humano.

“A ecologia ambiental, económica e social está interligada. Nenhuma pode ser excluída em benefício de alguma delas”, escreve o bispo alentejano que acautela para um empobrecimento da “realidade” que tem repercussões no bem integral do todo.

D. António Vitalino exemplifica que o desenvolvimento económico “desligado de todos os outros aspetos” procura apenas o maior lucro e considera necessário que a técnica esteja ao serviço da pessoa e “não ao contrário”.

Por isso, recorda D. José do Patrocínio Dias, “o bispo soldado de Beja”, que dizia que uma máquina ceifeira tirava o trabalho a 40 pessoas acabando também por contribuir para a “desertificação do Alentejo”.

“O desenvolvimento sem consideração da dignidade da pessoa torna-se desumano”, afirma apelando ao respeito pela cultura e pela justiça intergeracional.

D. António Vitalino, a partir do capítulo V, reflete ainda que é preciso pôr a política internacional, com os seus tratados, e a economia ao “serviço da vida humana” e ter em consideração o património das religiões no diálogo com as ciências.

Constituída por um total de 246 números, divididos em seis capítulos, a encíclica “Laudato si, sobre o cuidado da casa comum”, do Papa Francisco, foi publicada a 18 de junho último.

CB/PR

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