Guadix dixit

João Aguiar Campos, Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

O recente encontro das Comissões episcopais ibéricas para a Comunicação Social, em Guadix, de que as páginas da agência Ecclesia fizeram eco, merece ser revisitado. Da sua importância falam, de facto, as conclusões tornadas públicas, todas elas indiciadoras de uma reflexão marcada, a meu juízo, pelo realismo e a esperança.

Apesar de centrado na rádio católica, o que no encontro se disse vale para toda a comunicação social da Igreja, seja qual for a sua expansão e plataforma. Vale para toda ela, porque toda ela deve ter identidade clara, profissionais comprometidos com a mundividência cristã e gestão  condizente com a doutrina social católica. O que pressupõe seleção criteriosa e formação permanente, indispensáveis para não se atraiçoarem missão e valores, nem se rasgar o contrato de confiança com leitores, ouvintes ou telespectadores.

Referir isto parece repetir evidências. No entanto, não é ocioso fazê-lo. Mais: é mesmo indispensável e urgente fazê-lo!…

Não falta, de facto, quem confunda tolerância com ausência de convicções; e quem, à força de justamente recusar o proselitismo, abandone o direito/dever missionário de propor. Também não falta quem, renunciando ao esforço inteligente de procurar a relevância, viva de ideias inofensivas e populares: uma espécie de pedaços de bolo molotov que se desfazem na doçura do céu da boca…

Não escondo quanto tudo isto pessoalmente me incomoda e, ao mesmo tempo, responsabiliza; sobretudo quando são as “melhores intenções” e o mais amigo dos “pluralismos” a justificar a preguiça de debater e de iluminar. E, já agora, incomoda-me igualmente que hoje isso se faça invocando um papa mal traduzido na transparência do seu acolhimento exigente… Basta pensar que o seu anúncio de um Ano da Misericórdia não foi a proposta de uma “graça barata” (para citar Walter Kasper), mas a oportunidade de, mediante o autêntico conhecimento do Deus da misericórdia, esta ser vista como a fonte constante e inexaurível da conversão.

Volto às conclusões do mencionado encontro ibérico.

Faço-o para chamar a atenção para os verbos e expressões que os prelados usaram na sua comunicação: “valorizamos”, “queremos”, “deve estar”, “têm o direito e o dever”, “têm de”, “devem ter”…

Não leio aqui piedosas intenções ou recomendações paternalistas. Leio indicações cujo cumprimento fará a diferença entre a seriedade das escolhas e o melífluo faz de conta. Evidentemente que temos por diante a dura tarefa de tirar do papel o que foi dito/escrito. É certo que tal cabe, diariamente, aos diretamente responsáveis no terreno — mas que não dispensa a exigência e o acompanhamento de quem, em razão do seu múnus eclesial, tem o dever da santificação, do ensino e do governo.

Valha-nos a sabedoria popular que recomenda: “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”.

 

João Aguiar Campos

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