D. António Vitalino destaca apelos à paz do Papa em países marcados pela «diversidade»
Beja, 09 jun 2015 (Ecclesia) – O bispo de Beja manifestou preocupação pelo facto de migrantes comunitários serem “considerados como estrangeiros”, nos países de acolhimento, mesmo depois de um período de integração, e exemplifica com a realidade luxemburguesa.
“Os cidadãos comunitários, ao mudar do país de origem para outro da Comunidade após um tempo de adaptação e integração, não devem continuar a ser considerados como estrangeiros, apenas como mão-de-obra, mas cidadãos de pleno direito, sendo um deles a escolha dos seus representantes no país onde trabalham e vivem”, assinala D. António Vitalino.
No texto enviado hoje à Agência ECCLESIA, o prelado continua a reflexão “identidade e a cidadania” onde comenta o referendo no Luxemburgo, realizado este domingo, que pretendia saber, entre outros assuntos, a opinião dos luxemburgueses sobre os direitos políticos dos estrangeiros, que são cerca de 46% da população do Luxemburgo, onde se conta 16% de portugueses.
“O resultado deste referendo exclui os estrangeiros do direito de voto, mesmo os provenientes de países da Comunidade Europeia”, e o prelado de Beja compreende a reação dos luxemburgueses que “estão na iminência de serem minoritários no seu próprio país”.
“Isso não justifica a decisão popular. Ainda bem que os seus governantes digam que irão respeitar esta decisão, mas tudo farão para, no futuro, tentarem mudá-la”, contextualizou.
Neste contexto, o vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana destaca que aos direitos correspondem deveres de cidadania e considera que a “maioria” dos emigrantes portugueses “ainda não adquiriu esta consciência” por isso ficaram “indiferentes a este referendo”.
“Todo o sistema educativo, os governos, as instituições culturais, sociais e religiosas, assim como os meios de comunicação social devem dar o seu contributo para formar esta nova cidadania europeia”, corresponsabiliza D. António Vitalino.
Sobre a Igreja escreve que “desde os seus inícios evangélicos” forma as consciências dos cristãos para a “liberdade” dos filhos de Deus, “onde não pode haver aceção de pessoas, nem escravos ou estrangeiros, mas concidadãos”.
Este princípio, comenta o prelado, foi o tema da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado – Igreja sem fronteiras, Mãe de todos – celebrado a 18 de janeiro que inspirou o lema da Semana das Migrações – Igreja sem fronteiras, somos um só corpo – entre 9 a 16 de agosto, quando se assinala também a peregrinação dos migrantes ao Santuário de Fátima, a 12 e 13 do mesmo mês.
“Apesar dos contratempos e obstáculos não desistamos do caminho”, incentiva.
No mesmo âmbito, no item “convivência pacífica na diversidade”, o bispo diocesano recorda a viagem do Papa Francisco a Sarajevo, a capital Bósnia-Herzegovina, no sábado, onde a disputa pelo território culminou numa “guerra civil violenta, com muitos refugiados e mortes”.
D. António Vitalino apresenta o exemplo do Papa que visitou países onde há diversidade de etnias e religiões – Albânia, Turquia, Palestina – onde acentuou a “necessidade” de construir a paz no respeito pela “diferença e na convivência pacífica” e frisa que os cristãos “tudo” devem fazer para que “se construa uma nova civilização”.
“Estou convencido que o verdadeiro choque de civilizações poderá ser motivado pelas crescentes desigualdades entre países pobres e ricos e dentro do mesmo país o fosso entre ricos e pobres”, analisou o bispo de Beja.
CB/OC