D. António Vitalino sublinha importância do «direito ao trabalho»
Beja, 28 abr 2015 (Ecclesia) – O bispo de Beja apelou à defesa das pessoas mais atingidas pela crise económica, sobrepondo o interesse humano ao do mercado, em particular na promoção do emprego.
“Na atualidade, com muitos desempregados e de grande precariedade, temos de lutar sobretudo pelo direito ao trabalho”, escreve D. António Vitalino.
Na nota enviada hoje à Agência ECCLESIA, o prelado explica que nas relações humanas e laborais os envolvidos no processo não se podem refugiar numa “atitude egoísta e individualista” mas “aprender a entrelaçar” as vidas com as dos outros.
“Nem sempre é possível salvar os postos de trabalho e as empresas sem mercado. Mas neste panorama é preciso salvar as pessoas, pois são o elo mais importante, mas por vezes o mais frágil”, observa.
O bispo de Beja revela que aprendeu desde pequeno que o pão se ganha com “o suor do rosto” e que a ociosidade “é mãe de todos os vícios”, por isso, manifesta-se preocupado com as pessoas que ficam desempregadas e “correm o perigo de cair em vícios” que podem afetar “a personalidade, o agregado familiar e o tecido social”.
Na reflexão, o responsável expressa preocupação pela ausência de respostas e alerta que uma sociedade com muito desemprego e de “baixos salários e reformas vai hipotecando o seu futuro”.
Para D. António Vitalino “não se pode aprovar” a modernização de empresas para as tornar mais rentáveis e diminuir os postos de trabalho, porque é preciso ter em conta os problemas humanos, a dignidade das pessoas, a paz social, o bem das famílias.
“Não basta assegurar o fundo de desemprego por um determinado tempo”, afirma o prelado, acrescentando que a solidariedade “não pode ser” apenas assistencialista mas abranger a “promoção e ocupação das pessoas”.
“Por isso, Estado, empresas, associações e pessoas têm de procurar soluções justas, não olhando apenas ao lucro, ao mercado, mas sobretudo aos direitos humanos”, desenvolve o responsável religioso católico do Baixo Alentejo.
Desta forma, apela a uma “boa articulação” de todos os intervenientes que em momentos de crise económica “é a prova da maturidade de uma sociedade”; ao diálogo que é manifestação de “inteligência” e caminho de criatividade para “soluções viáveis” que não privilegiem “apenas um grupo”.
Segundo D. António Vitalino, mesmo no direito à greve “nunca se deve por de parte o bem comum” e aconselha a “ponderar os prós e os contras” para não causar sofrimento e deteriorar “todo o tecido social, pessoas, famílias e sociedade”.
Para o bispo diocesano uma sociedade que “não exercita” atitudes de solidariedade, de gratuidade, torna-se fria e desumana e “não é possível qualquer tipo de vida social”.
O responsável espera que o Ano Jubilar da Misericórdia, anunciado pelo Papa Francisco, que começa a 8 de dezembro, estimule as pessoas a serem “mais solidárias e misericordiosas” num tempo de “muita indiferença e esquecimento” dos mais frágeis – “as crianças, os idosos, os imigrantes, os deficientes”.
CB/OC