Revolução de 1974 vista por Manuela Silva, José Leitão, cónego António Janela, D. Manuel Martins e Luís Salgado Matos
Lisboa, 24 abr 2015 (Ecclesia) – Manuel Silva, antiga presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, elogiou o papel dos católicos na construção da consciência coletiva que ajudou à revolução do 25 de Abril, em 1974.
“Vale a pena lembrar todo o trabalho dos católicos relativamente à conscientização dos cidadãos do nosso país relativamente à guerra colonial, que do ponto de vista do governo era tabu”, recordou, em declarações que vão ser transmitidas este domingo no programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública.
Manuela Silva assinala que a contestação ao colonialismo trouxe “consequências negativas” a vários católicos, alguns dos quais estavam presos em Caxias, aquando da revolução.
A ex-secretária de Estado para o Planeamento, no I Governo constitucional (1976-77), relembra também uma corrente chamada “cristãos pró-socialismo” que reunia com a “cumplicidade” de congregações religiosas e discutiam temas numa linha “marcadamente adversa à política dominante”.
O Manifesto dos 101 católicos, em 1965, ou a vigília de 31 de dezembro de 1972 para 1973, na Capela do Rato, em Lisboa, são exemplos da intervenção dos leigos durante o Estado Novo.
Neste contexto, o historiador Luís Salgado Matos comenta que a “energia despoletada” pelo Concilio do Vaticano II “manifestava-se” em relação a um mundo onde o “colonialismo ainda era muito forte, o comunismo russo “continuava atuante” e a afirmar-se como “organização política alternativa ao ocidente”.
O entrevistado observa ainda outros temas como a “questão das mulheres ou da homossexualidade” que não se colocavam, bem como o holocausto.
“A prova é que arriscaram e muito impelidos pelo espírito do Vaticano II. Hoje é fácil de elogiá-los”, observou o presidente do Instituto de Formação Cristã do Patriarcado de Lisboa, o cónego António Janela.
Os movimentos estudantis revelaram-se espaço intervenção e crescimento cívico, nomeadamente a Juventude Universitária Católica (JUC), no ramo masculino e feminino.
“No meu tempo já era muito comprometida com a libertação do povo português, com a renovação teológica. Foi esse ambiente que me incentivou a entrar na vida partidária, foi decisivo, encontrei pessoas com muita preocupação com uma sociedade mais justa”, recordou José Leitão, presidente do Centro de Reflexão Cristã.
Por sua vez, Manuela Silva revela que deve a sua formação e “interesse pelas questões do mundo” e presença dos cristãos ao trabalho que começou na faculdade, em 1949-50.
“Encontrei na JUC esse espaço de abertura cultural, de empenhamento, de debate, de discussão”, acrescentou.
41 anos depois do 25 de Abril, o cónego António Janela considera que era preciso que os “cristãos não se instalassem”.
“Que tomassem mais a peito a sua responsabilidade política no sentido pleno da palavra, da construção da cidade. Que não ficassem apenas no interior dos templos, a missão do leigo é no mundo concreto, na família, no trabalho, na intervenção sociopolítico”, desenvolveu o sacerdote.
D. Manuel Martins, antigo bispo de Setúbal, critica e caracteriza o tempo atual como “difícil”, por se estar a “perder a esperança” na mudança, e aponta como exemplo as “eleições legislativas e as presidenciais”.
“Era bom que o povo português tivesse ocasião e oportunidade de pensar, de escolher”, acrescentou.
A mais recente edição do Semanário digital ECCLESIA é dedicada à ação e contributo dos católicos na transição democrática em Portugal.
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