Irmão Vítor Lameiras considera insuficiente o aumento de lugares e financiamento previsto
Lisboa, 13 mar 2015 (Ecclesia) – O responsável nacional da Ordem Hospitaleira de São João de Deus considerou hoje positivo o aumento do número de camas na rede de saúde mental, mas alertou para a falta de financiamento e para o falhanço da “desinstitucionalização” em psiquiatria.
“Houve uma má desinstitucionalização sobretudo porque só agora estão a ser tomadas medidas quanto aos cuidados continuados que deviam ter sido asseguradas há muito mais tempo”, refere à Agência ECCLESIA o irmão Vítor Lameiras.
As declarações surgem depois de a presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM) ter denunciado "graves lacunas" no processo de desinstitucionalização psiquiátrica e desigualdade no tratamento das pessoas.
O provincial da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus (OHSJD) discorda, no entanto, em relação ao alerta sobre instituições sobrelotadas.
“Nesse aspeto acho que devia visitar alguma das nossas instituições para perceber que não temos depósitos de doentes”, convida o irmão Vítor Lameiras, recordando que um relatório da OHSJD, de 2014, revelava que os institutos hospitaleiros – masculinos e femininos – têm “67% da saúde comunitária”.
“Não somos claramente depósitos, mas precisamos de maior apoio para que a saúde mental seja cada vez mais comunitária e tenhamos menos doentes institucionalizados. A presidente da SPPSM tem razão, está a falhar o financiamento”, acrescentou.
Segundo o religioso, as instituições têm pedido “reuniões urgentes” ao Ministério da Saúde para que desbloqueie o subfinanciamento de áreas específicas.
Entretanto, o Ministério da Saúde anunciou uma verba de 1 milhão e 600 mil euros para os cuidados continuados e o aumento de 320 camas para a saúde mental, no qual a OHSJD também foi contemplada.
“É um primeiro passo que o Governo está a dar e penso que será um ponto de partida para uma maior rede de cuidados continuados de proximidade na área da saúde mental”, analisa o responsável, para quem a verba “não parece suficiente” e o número de camas continua com deficiências em áreas como Lisboa e Vale do Tejo e o norte do país.
O irmão Vítor Lameiras também concorda com a necessidade de revisão do Plano de Saúde Mental, que “não pode” ser feito sem “envolver” o setor social.
“Representamos praticamente 60% do que é a saúde mental em Portugal e não nos considerar é no fundo fechar os olhos à situação real do país”, alertou.
Nesse contexto, defende que se estruturem também os equipamentos que existem no setor social e público por “áreas de especialidade”.
“Não podemos ter uma diária igual para toda a gente. É diferente uma deficiência normal de uma perturbação da personalidade ou do comportamento de nível grave, de duplo diagnóstico”, exemplificou.
Para o provincial da Ordem Hospitaleira São João de Deus é “importante” referir que há um determinado tipo de população que “não tem condições” para estar em casa.
CB/OC