II Concílio do Vaticano: «Para quê o solidéu e as capas roxa e purpúrea?»

O Bispo da Beira (Moçambique) e padre conciliar, D. Sebastião Soares de Resende fez uma intervenção no II Concílio do Vaticano (1962-1965) sobre a introdução ao esquema «A Igreja e o mundo moderno». Durante as quatro sessões, o prelado português natural de Milheirós de Poiares (Santa Maria da Feira) foi um dos mais interventivos e sempre incisivo nas observações que fazia.

O Bispo da Beira (Moçambique) e padre conciliar, D. Sebastião Soares de Resende fez uma intervenção no II Concílio do Vaticano (1962-1965) sobre a introdução ao esquema «A Igreja e o mundo moderno». Durante as quatro sessões, o prelado português natural de Milheirós de Poiares (Santa Maria da Feira) foi um dos mais interventivos e sempre incisivo nas observações que fazia.

Na sua intervenção sobre o texto «De Ecclesia in mundo hujus temporis», D. Sebastião Soares de Resende julga haver algo a corrigir e a aperfeiçoar, “tanto nas expressões e ordem lógica dos parágrafos, como na introdução e no desenvolvimento de algumas questões” (In: Revista «Igreja e Missão 17-18; número especial dedicado à terceira sessão do concílio; pág 259).

Neste texto com uma atualidade surpreendente, o bispo nascido em 1906 realça que o mundo, “sobretudo o não cristão”, reconhecerá a Igreja “se ela se lhe apresentar como a Igreja pobre”. Ela não deve “ser apenas a Igreja dos pobres, mas também a Igreja pobre”. Todavia – acrescenta o prelado – ela “não será pobre se nós não professarmos a pobreza, nas palavras e sobretudo nas obras”.

Na sua intervenção, o padre conciliar coloca algumas questões pertinentes em relação às vestes eclesiásticas e às pedras preciosas que estes utilizam nos cerimoniais. “Para quê tanto ouro e tantas pérolas no nosso peito e nas nossas mãos? Para quê o solidéu, a manteleta, a capa magna vermelha, roxa e purpúrea? Para quê tantas dignidades na Igreja, que não foram instituídas por Cristo Senhor?”, lamentou D. Sebastião Soares de Resende.

Defensor da Justiça em favor dos “mais fracos e oprimidos”, o bispo da Beira promoveu a “educação da juventude das missões com milhares de escolas primárias” e idealizou para aquele país lusófono uma sociedade “integrada de raças e cidadãos iguais, perante a lei, apesar das diferenças”.

Sagrado bispo da Beira em 1943, no aniversário da sua tomada de posse na diocese moçambicana (8 de dezembro) dirigia uma pastoral ao seu rebanho “sempre repleta de conteúdos doutrinários e incidindo muitas vezes em aspetos concretos que denunciavam injustiças e deficiências” – (in: “Resistência Católica ao Salazarismo – Marcelismo).

Nesta e noutras conjunturas, o prelado natural de Santa Maria da Feira agia exclusivamente na convicção de estar na defesa de “direitos inamovíveis da pessoa humana e totalmente alheio como sempre se manteve relativamente a qualquer vinculação política” – (Capela, José; “D. Sebastião e o «Diário de Moçambique»”; in: Revista «Síntese»).

Este bispo, falecido em janeiro de 1967, bebeu as águas conciliares e as suas palavras foram gritos de autêntico profeta.

LFS

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