Vaticano: Bento XVI, dois anos depois da renúncia

Papa emérito publicou mensagens e participou em celebrações presididas por Francisco

Lisboa, 11 fev 2015 (Ecclesia) – Bento XVI anunciou a sua renúncia ao pontificado há dois anos e está a manter uma vida de recolhimento e silêncio, surgindo em público apenas para acompanhar cerimónias presididas por Francisco.

O agora Papa emérito apresentou a sua renúncia durante uma reunião com várias dezenas de cardeais, que tinha sido convocada para aprovar a canonização de três beatos: o agora Papa emérito afirmou, em latim, que as suas forças devido à idade avançada, já não eram “idóneas” para exercer adequadamente o seu ministério, que chegaria ao fim a 28 de fevereiro de 2013.

Francisco tem repetido elogios ao seu predecessor, como aconteceu a 27 de outubro do último ano, quando o apresentou como um “grande Papa”.

“Grande pela força e a acuidade da sua inteligência, grande pelo seu relevante contributo para a teologia, grande pelo seu amor à Igreja e aos seres humanos, grande pelas suas virtudes e a sua religiosidade”, declarou, após ter descerrado um busto em bronze do Papa emérito, associando-se à iniciativa da Academia Pontifícia das Ciências.

Francisco recordou que Bento XVI, Papa entre abril de 2005 e fevereiro de 2013, se destacou pela sua “solicitude” face aos cientistas, “sem distinção de raça, nacionalidade, cidadania ou religião”.

O Papa disse que a Igreja e o mundo devem estar gratos pela “existência e o pontificado” de Bento XVI, pelos “seus ensinamentos, os seus exemplos, as suas obras, a sua devoção à Igreja e a sua atual vida monástica”.

O Papa emérito participou pela primeira vez numa cerimónia pública junto de Francisco em fevereiro de 2014, num consistório para a criação de cardeais e viria a repetir a presença em várias ocasiões, como as canonizações dos Papas João XXIII e João Paulo II ou a beatificação do Papa Paulo VI, na Praça de São Pedro.

No mesmo local, Bento XVI esteve com o Papa Francisco para a abertura do encontro que reuniu 40 mil avós e idosos de 20 países, em setembro de 2014.

"Agradecemos a presença do Papa emérito Bento XVI. Disse já muitas vezes que gostava que ele morasse no Vaticano, porque era como ter um avô sábio em casa", explicou Francisco.

O Papa emérito esteve no centro de uma discussão sobre o eventual acesso à Comunhão por partes dos recasados, ao ter alterado a redação de um texto publicado em 1972, para a publicação do quarto livro da coletânea dos seus escritos.

Bento XVI quis esclarecer em entrevista ao ‘Frankfurter Allgemeine’ que considerava um “total absurdo” ver na reafirmação da “impossibilidade de receber a Santa Eucaristia” uma interferência nos trabalhos do Sínodo sobre a Família (outubro de 2014), precisando que a revisão do texto foi decidida em agosto, poucos meses antes do Sínodo, e não contém “nada de novo”.

O Papa emérito confessou que, após o fim do seu pontificado, gostaria de ter passado a ser chamado apenas por ‘Vater Benedikt’, ‘padre Bento’, mas que não sentiu forças para impor a sua vontade.

Em outubro, o Papa alemão escreveu um texto para o início do ano académico na Universidade Pontifícia Urbaniana, que dedicou a sua aula magna a Bento XVI.

O documento recorda que a Igreja "nunca foi um só povo ou uma só cultura", porque está "destinada à humanidade".

Bento XVI sublinhou que não se pode renunciar à “verdade” em nome de um desejo genérico de "paz entre as religiões do mundo" e sustentou que o ser humano se torna “torna menor, não maior, quando já não mais espaço para um ‘ethos’ que o leve para além do pragmatismo" e que oriente o seu olhar para Deus.

Antes, o Papa emérito tinha enviado uma mensagem de saudação os participantes num congresso promovido pela Fundação Ratzinger, que decorreu na Colômbia, na qual afirmava que “o compromisso pela paz – tão fundamental num mundo dilacerado pela violência – começa pelo respeito incondicional pela vida do homem, criado à imagem de Deus e por isso dotado de uma dignidade absoluta”.

OC

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