Leiria, 28 jan 2015 (Ecclesia) – O padre José-Román Flecha, responsável pelo Centro de Orientação Familiar, da Universidade Pontifícia de Salamanca (Espanha), durante mais de 20 anos, comenta a realidade da “família” hoje, a relação e contributo da Igreja Católica, os desafios e problemas.
“No mundo em vias de desenvolvimento, o maior problema é a pobreza. No mundo ocidental europeu são os problemas que geram a emigração e o desenraizamento familiar”, explicou o sacerdote professor jubilado de Teologia Moral na Universidade Pontifícia de Salamanca
Ao jornal ‘Presente’, da Diocese Leiria-Fátima, considerou que o problema “mais comum e mais grave” na cultura ocidental “será” a falta de comunicação entre os esposos e entre estes com os filhos.
“Talvez esta seja a causa de muitas dependências, como a droga, o sexo, o jogo, a internet e as redes sociais”, acrescentou assinalando que a também existe “falta de comunicação” com Deus nas famílias através da “transmissão da fé às novas gerações”.
Neste contexto acredita que existe solução uma vez que vê “muitos exemplos e sinais” de que a família é “o melhor património da humanidade”.
Nas soluções dos problemas estão “todos” envolvidos, desde os Estados, com políticas que “silenciam e retiram capacidade de ação”, à Igreja que as considera “mero objeto de evangelização”.
“Aí é que está o segredo: as famílias unidas têm de ter mais voz e intervenção social e têm de ser o sujeito da evangelização”, alertou o padre José-Román Flecha.
Do Sínodo dos Bispos sobre a família, espera que “não se limite” a ser uma ocasião para o “confronto” ou para o “escândalo jornalístico” e destaca que a Igreja tem de ter em conta os “valores éticos universais” mas também a “enorme diferença entre as culturas e as pessoas”.
Para o sacerdote, “sempre” existiram diferenças de abordagem sobre ética familiar (cristã), como há divergências sobre a ética económica ou a ética política.
“Hoje, o tema preocupa-nos, porque as diferentes visões da família pedem a legalização num mesmo país. Os sistemas jurídicos devem ter em conta os diferentes tipos de relações, a fim de garantir os direitos dos indivíduos”, desenvolve.
Por isso, alerta que nem todos os “tipos de relacionamento” podem ser equiparados à família por exemplo quando “faltam” alguns dos “elementos essenciais da instituição familiar e dos subsistemas” que a compõem.
O especialista frisa que a família é “fundada sobre o matrimónio”, uma comunidade de vida e de amor conjugal “entre um homem e uma mulher” uma relação que “inclui”, pelo menos, “a unicidade, a definitividade, a fecundidade e o caráter público” de onde derivam direitos e deveres próprios que se resumem na ‘Carta dos Direitos da Família’.
Segundo o padre José-Román Flecha, existem direitos e deveres que “podem ser defendidos” por novas realidades sociais de família – monoparentais, casais em união de facto, uniões homossexuais – mas revela preocupação porque a ênfase da “legislação social” está nos pais e “muitas vezes ignora” os direitos das crianças nascidas e por nascer.
O sacerdote espanhol está em Portugal a orientar o segundo turno da formação permanente do clero da Diocese de Leiria-Fátima, que termina esta sexta-feira, na casa das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, em Linda-a-Pastora, Oeiras.
O tema central são “as questões ético-pastorais da família hoje” e contam-se ao todo cerca de 80 padres com a presença do bispo da diocese, D. António Marto, acrescenta o semanário.
Presente/CB