Presidente da Conferência Episcopal Grega analisou para a Agência ECCLESIA vitória do Syriza
Atenas, Grécia, 26 jan 2015 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Grega reagiu hoje com cautela à eleição para primeiro-ministro de Alexis Tsipras, sublinhando que “falta conhecer o programa” que o líder político de esquerda terá para o país.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Fragiskos Papamanolis frisa que o sucessor de Antonis Samaras “não apresentou um programa claro”, apenas “muitas promessas e palavras bonitas”, que “um povo desiludido com a política depressa seguiu”.
As últimas eleições legislativas tiveram uma percentagem de abstenção de 40 por cento, ou seja, em 11 milhões de gregos votaram pouco mais do que seis milhões.
Deste número, o partido de esquerda (e anti programa de auteridade) Syriza, liderado por Alexis Tsipras, obteve 36, 3 por cento dos votos, cerca de 8,5 por cento acima do partido conservador Nova Democracia, encabeçado por Samaras.
Para D. Fragiskos Papamanolis, isto significa que a vitória de Tsipras acaba por ser “pouco representativa”, uma vez que colheu a preferência de “apenas 22, 23 por cento da população”.
No entanto, a Igreja Católica espera que o novo primeiro-ministro “cumpra aquilo que prometeu”, em termos de procurar uma saída viável para a dívida de 300 biliões de euros que pesa sobre a Grécia, sem que isso signifique mais auteridade.
“O povo estava farto porque Antonis Samaras fazia tudo ao contrário do que prometia, num dia dizia que não haveriam mais impostos, no outro punha mais”, aponta líder do episcopado grego, que espera que esta viragem política marque também uma época de maior esperança e justiça para a nação grega.
A Grécia precisa de abrir novos caminhos, no entanto isso nunca poderá implicar um “corte radical” que faça com que o país fique “isolado dos bancos e do comércio internacional”.
Caso contrário, “como é que Alexis Tsipras encontrará as verbas necessárias para pagar todas as dívidas do Estado?”, questiona D. Fragiskos Papamanolis.
O buraco financeiro nas contas públicas da Grécia, mais a consequente política de austeridade deixaram marcas nas populações locais e também na própria Igreja Católica do país.
Segundo o presidente da Conferência Episcopal Grega, “a Igreja Católica chegou à miséria”.
“As dioceses, os bispos, os funcionários das cúrias diocesanas, das paróquias, não têm como pagar mais impostos e não têm ajuda de ninguém, há casos em que pagam 80 por cento daquilo que recebem, é incomportável”, frisa o responsável católico.
D. Fragiskos Papamanolis espera que o novo primeiro-ministro traga maior justiça ao nível das contribuições que são pagas ao Estado, uma vez que a Igreja Ortodoxa (maioritária no país), “apesar de também pagar impostos, é depois ressarcida pelo Estado”.
A este respeito, refira-se que Alexis Tsipras não cumpriu o juramento diante do arcebispo ortodoxo de Atenas, como é tradicional o primeiro-ministro grego fazer quando é eleito.
JCP