Conselheiro da União das Conferências Europeias de Superiores Maiores diz que a falta de vocações tem de ser vencida pela autenticidade
Lisboa, 26 jan 2014 (Ecclesia) – Para o conselheiro da União das Conferências Europeias de Superiores Maiores (UCESM), o desafio da falta de vocações nas congregações religiosas tem de ser superado através da qualidade e da autenticidade.
Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, o padre Mariano Sierra sublinha que atualmente não existem “poucos” mas sim “menos” religiosos, porque o primeiro adjetivo “implicaria dizer que estariam diante de uma dificuldade a que não poderiam fazer frente”.
Pelo contrário, acrescenta o sacerdote, é possível fazer frente a ela, desde que as congregações religiosas percebam que, ainda que com “menos efetivos”, “têm muito a dar aos outros, pela sua história, a sua experiência e sobretudo pela sua espiritualidade”.
O padre claretiano dá como exemplo a forma como muitas ordens religiosas, para buscarem novos efetivos e não fecharem portas, se viraram para o Oriente.
Apesar do objetivo inicial, o que realmente aconteceu foi que elas “encontraram-se consigo mesmas, deram-se conta de que não sabiam falar o idioma nem a linguagem oriental, que para serem verdadeiramente católicas teriam de incorporar outros elementos”.
“Isso obrigou muitas congregações a uma mudança de mentalidade, a abrirem-se a outras formas de pensar, o que foi muito benéfico, ser menos ajudou-as a serem mais, mais profundas, mais católicas e mais elas próprias”, apontou.
Aliás, o conselheiro da UCESM defende que a Vida Consagrada na Europa tem muito a ganhar com o exemplo da Europa de Leste e do Oriente, onde as vocações religiosas florescem com base no exemplo de vida, na “atratividade”.
“Mais do que fazer, mostrar que Deus é capaz de mudar a realidade, numa frase de um grande monge ortodoxo, São Serafim de Sarov, encontra a paz e a teu lado salvar-se-ão milhares e milhares de pessoas”, complementa.
O conselheiro da UCESM está em Portugal para participar num encontro com formadores de todas as congregações do país, em Fátima.
Ainda sobre a escassez de vocações, o sacerdote lembra a importância das congregações religiosas trabalharem mais “em conjunto com o clero e os leigos”.
“Em muitas paróquias, os párocos encaram-nos simplesmente como bons trabalhadores. Que passem a encarar-nos como muito mais, temos muito a oferecer, pelo nosso modo de ser”, acrescenta.
A Igreja Católica está a viver até fevereiro de 2016 um ano dedicado à Vida Consagrada, através do qual o Papa Francisco espera que os religiosos e religiosas “despertem o mundo” através do seu testemunho.
Para o padre Mariano Sierra, o Papa argentino tem demonstrado ser “um grande despertador e provocador da vida religiosa”.
“E não há que ter medo destas provocações, são muito necessárias”, sustenta aquele responsável, recordando por exemplo a exortação de Francisco a uma vida religiosa mais aberta e mais presente no meio do mundo, das pessoas.
“Temos de tornar-nos presentes, onde os jovens estejam, que nos vejam, que vejam como somos autênticos. Se não tivermos autenticidade, para que é que queremos vocações?”, questiona o sacerdote claretiano.
PR/JCP