João Aguiar Campos, Secretariado Nacional das Comunicações Sociais
Realiza-se, dentro de dias, no Porto, o II Encontro Nacional de Leigos apresentado como tempo de “reflexão e de festa”.
Gosto, particularmente, que a festa seja assim publicamente afirmada; porque acho coerente e obrigatório que os que partilham a mesma fé e o mesmo entusiasmo (con)celebrem a “alegria do Evangelho” que, na feliz afirmação do papa Francisco, “enche o coração e a vida daqueles que se encontram com Jesus”. Trata-se, por isso, de uma alegria profunda, de um “feixe de luz” que se projecta e não se esconde – sendo que também não se aprisiona em qualquer instante folclórico. Sim; que a festa não é foguete passageiro mas – e cito D. Manuel Linda – “transformação do tempo prosaico em tempo salvífico, poético, cheio de sentido existencial”.
Mas se a festa deve ser publicamente afirmada, a reflexão é igualmente urgente; e, muitas vezes, é mais difícil de cumprir — porque obriga a ir ao fundo, analisar, reforçar e/ou corrigir. Obriga a razões que sejam raízes.
No que aos leigos diz respeito, a reflexão tem de focar-se na sua vocação secular, que devem viver com fidelidade e entusiasmo, considerando-a tão digna como a dos sacerdotes e religiosos.
Os leigos não são, de facto, cristãos de terceira divisão; não são meros colaboradores de ninguém, mas baptizados chamados a uma missão específica a cumprir no lugar que ocupam no mundo. Não são delegados do clero, numa espécie de partilha condescendente; e nunca deveriam ser definidos por exclusão (fiéis que não são clérigos)…
Aceitar tudo isto é, da parte dos leigos, assumir a sua obrigação de tratar das realidades temporais e ordená-las segundo Deus. É´, com a mesma intensidade, recusar a tentação de se clericalizar ou deixar clericalizar, nas palavras e nas atitudes – e, assim, pecarem ora por omissão, ora por usurpações de funções…
Quando este 2º Encontro Nacional de Leigos se propõe “recolocar o homem no centro da sociedade”, aponta a cada participante um dever de protagonismo que o remete para uma inserção profunda na sociedade e nos seus problemas; nas suas alegrias e nas suas lágrimas.
A este propósito, vale para todos a advertência do n.270 da Evangelli gaudium: “Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus Cristo quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros. Espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que nos permitem manter à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contacto com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura”.
O estatuto de observador não é um estatuto missionário!…
João Aguiar Campos