Responsáveis contestam «modelos completamente desajustados da realidade» que se pretendem impor à instituição
Coimbra, 12 jan 2015 (Ecclesia) – O diretor nacional da Obra da Rua, padre Júlio Pereira, admite o fim das Casas do Gaiato em Portugal se a instituição continuar a ser alvo de imposições de natureza técnica e burocrática.
“Por vezes a sociedade organiza-se de tal maneira que impede a livre ação dos cidadãos, acaba por controlar em demasia essa ação e coartar a espontaneidade que é necessária para realizar esse trabalho, essa experiência de vida”, salienta, em entrevista concedida à Agência ECCLESIA, à margem da celebração do aniversário da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, a primeira a ser criada em Portugal, que completou 75 anos na quarta-feira.
O sacerdote recorda que a Obra de Rua “nasceu da espontaneidade” do Padre Américo para, de forma simples e “livre”, estar ao serviço dos mais desfavorecidos e “assim quer continuar”.
Há vários anos que a Obra de Rua, as suas Casas do Gaiato espalhadas pelo país, de apoio a crianças e jovens desfavorecidos, contestam a atuação da Segurança Social para com o projeto, por a considerarem excessiva.
Esta é uma instituição juridicamente autónoma, também do ponto de vista do Direito Canónico, que não conta com qualquer tipo de apoio por parte do Estado.
O padre Júlio Pereira lamenta a tentativa que tem sido feita para “controlar” o rumo da Obra da Rua, através da imposição de “modelos completamente desajustados da realidade”, no que toca à missão e ao carisma deixado pelo “Pai Américo”.
Nesse sentido, admite o fim das Casas do Gaiato em Portugal e a sua transposição para outros países.
“Já estamos em Angola e Moçambique há 50 anos, mas iremos a outros lados, porque (tal como o padre Américo) também nós procurámos Cristo e encontramo-lo na Igreja e nos pobres da Igreja. É a eles que queremos servir”, frisa o sacerdote.
Sobre o legado do Padre Américo, e a natureza da Obra da Rua, o diretor nacional sublinha que tudo nasceu da vontade de “viver com aqueles que tendo direito a uma vida digna, por alguma razão injusta não têm”.
“De um homem que quis viver com os pobres” e depois “nunca mais se pôde afastar deles”, mais uma vez, de forma “espontânea”.
O padre Júlio Pereira recorda que o fundador das Casas do Gaiato, embora sendo “senhor de uma grande pedagogia, não a estudou nos livros”.
“Aprendeu-a na contemplação, na oração, na leitura do Evangelho, na meditação e na prática, e por vezes também a aprendeu com as outras pessoas que colaboravam com ele”, complementa.
Os 75 anos da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, na Diocese de Coimbra, foram assinalados este sábado com uma conferência dedicada ao Padre Américo (1887-1956), pelo professor e investigador Henrique Manuel Pereira.
Na ocasião foi também lançada a exposição ‘Pai Américo e a Obra da Rua’.
HM/JCP