Francisco alerta para consequências da «autonomia absoluta» dos mercados e da especulação financeira
Cidade do Vaticano, 11 jan 2015 (Ecclesia) – O Papa Francisco reforçou a opção pelos pobres, na ação da Igreja, e voltou a recusar qualquer colagem do seu pontificado ao comunismo, numa entrevista divulgada hoje na Itália.
“A atenção pelos pobres está no Evangelho, não é uma invenção do comunismo”, declarou aos jornalistas Andrea Tornielli, vaticanista e coordenador do portal ‘Vatican Insider’, e Giacomo Galeazzi, vaticanista do jornal ‘La Stampa’.
A entrevista encerra o livro intitulado ‘Papa Francisco. Esta economia mata’, publicação dedicada ao magistério social do pontífice argentino.
O Papa sublinha que “a atenção pelos pobres” faz parte da tradição da Igreja e que “é preciso não a ideologizar”, porque tem a sua origem documentada “nos primeiros séculos do Cristianismo”.
“Quando a Igreja convida a superar a globalização da indiferença, está longe de qualquer interesse político ou de qualquer ideologia”, exemplifica.
Francisco critica uma globalização que, apesar de ter ajudado muitos pessoas a superar a pobreza, condena “muitas outras a morrer de fome”, provocando um aumento das desigualdades e negando a dignidade do ser humano.
“A cultura do descarte leva a recusar as crianças, também com o aborto”, alerta.
O Papa retoma as preocupações com a “eutanásia escondida dos idosos que são abandonados” e com os altos índices de desemprego juvenil, deixando uma pergunta: “Qual será o próximo descarte?”.
Para Francisco, é essencial “parar” e deixar de considerar a atual situação como “irreversível”, procurando colocar no centro da Economia “o homem e o seu bem, não o dinheiro”.
“Sem uma solução para os problemas dos pobres, não resolveremos os problemas do mundo”, sustenta.
Neste sentido, o pontífice argentino contesta uma “autonomia absoluta” dos mercados e da especulação, que contraria a necessidade de “resolver as causas estruturais da pobreza”.
Em conclusão, Francisco recorda que o Evangelho “não condena os ricos, mas a idolatria da riqueza, que os torna insensíveis aos gritos dos pobres”, pelo que considera o ‘pauperismo’ como “uma caricatura do Evangelho e da própria pobreza”.
Os católicos, defende, são chamados a “cuidar do próximo, de quem é pobre, de quem sofre no corpo e no espírito, de quem passa necessidade”.
OC